sábado, 24 de setembro de 2011

ANÁLISE DAS GRADUAÇÕES EM HISTÓRIA NO BRASIL - Grupo 4


Universidade Federal de Pernambuco
Departamento de História
Disciplina: Introdução aos Estudos Históricos
Prof. Isabel Guillen




A presente pesquisa sobre cinco universidades sendo uma de cada região brasileira, visa estabelecer comparações sobre a estruturação dos cursos de graduação em história, com ênfase na disciplina de introdução aos estudos históricas ou equivalentes. As instituições a serem analisadas são: Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Universidade de Brasília (UnB), Universidade Federal do Pará (UFPA), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Teve seu inicio o curso de história na UFAL em 1954, e tem uma duração mínima de três anos, onde o individuo pode graduar-se com a dupla titulação (licenciado e bacharel). Observando a grade curricular, percebemos que na UFAL encontra-se a disciplina de história do nordeste de forma obrigatória: com a introdução de tal disciplina nota-se um enfoque regionalista, tal disciplina não se encontra em outras instituições federais da mesma região (UFPI, UFPB, UFPE). Observa-se que a disciplina de antropologia cultural, que tem uma importância bastante singular na formação do historiador por possibilitar uma visão mais ampla acerca dos instrumentos e normas que os homens produzem numa relação espaço-temporal, é oferecida como componente obrigatório na grade curricular do curso, enquanto que na UFSC e na UFPE, tal disciplina não se encontra no componente curricular, além das disciplinas de inglês e espanhol instrumentais, que também são obrigatórias, fato que não acontece em outras instituições federais (UFPE, UFSC, UFPA). A introdução dessas disciplinas instrumentais mostra a importância cada vez maior de um segundo idioma na formação acadêmica.

Analisando os assuntos presentes na disciplina de introdução aos estudos históricos é possível perceber que a uma problematização a respeito do suposto caráter cientifico da história, há uma discussão a respeito da influência do positivismo na estruturação do conhecimento histórico, há um questionamento a respeito da objetividade e da subjetividade na teoria histórica, há uma definição em torno do conceito de história, dos instrumentos, métodos de analise e do tempo histórico. Os principais teóricos utilizados na disciplina são Braudel, pertencente à segunda geração da escola dos Annales, Burke, professor que é especialista em história moderna européia, Ciro Flamarion Cardoso, que é brasileiro e enfoca as áreas metodológicas da teoria histórica e história antiga e Jacques Le Goff, que se enquadra na terceira geração da escola dos Annales. Na UFAL não há uma disciplina de introdução aos estudos históricos 2, como acontece na UFPE, portanto boa parte do conteúdo que será trabalhado na UFPE em introdução aos estudos históricos 2 é visto de forma única na disciplina de introdução aos estudos históricos na UFAL.

O curso de história da UnB tem a modalidade licenciatura e bacharelado e á possibilidade de escolher a dupla habilitação. A estrutura do curso disponibiliza no máximo quatro disciplinas como obrigatórias por semestre, exceto no 6º período onde se cursa 5 disciplinas, fazendo com que o aluno consiga aproveitar melhor as cadeiras. É possível perceber a inexistência de algumas disciplinas que existem na UFPE, tais como economia, que é de grande importância para se perceber a influencia do funcionamento das organizações comerciais na composição da sociedade.
A disciplina de filosofia que deveria ser indispensável à formação de um historiador, pelo fato da mesma permitir que a sociedade seja “olhada” sobre um novo prisma o” em sí”. A cadeira de pré-história da UFPE também fica de fora da UNB, essa cadeira possibilitaria uma visão mais ampla do homem como ser histórico. Também ficam de fora da UNB várias outras disciplinas: geografia humana do Brasil, paleografia, sociologia 2. Fica-se a impressão de que o curso foi bastante sintetizado e com isso perde-se em amplitude de visão, porém fica um questionamento: para formar um bom historiador é necessário que ele se debruce teoricamente sobre os diversos campos epistemológicos?

A disciplina de introdução ao estudo da história atem-se a questões metodológicas em torno do pensamento e da prática histórica. Tocará também em conceitos culturais, sociais, econômicos e políticos que rodeiam o pensamento histórico. Discute-se acerca da investigação histórica e da influência da história na formação cultural dos diversos povos. Na disciplina são abordados três enfoques específicos, a política, a narrativa e o tempo. Nessa disciplina é possível entender o que é a história, qual o significado de entendê-la e qual o valor da verdade como construto temporal. Também fica bastante em foco a pergunta problema: a quem tem servido a história?

Com relação a bibliografia, são utilizados teóricos como ULPIANO, que trás a imagem e a paisagem para formular o discurso histórico. Também é utilizado o livro memória, história e coleção de Regina Abreu, onde são abordados aspectos como qual o uso político da história. Guilherme Pereira das Neves, pesquisador que tem como área especifica de estudo o Brasil império. E por fim também se utiliza o autor Edward Hallett Carr, que é especialista em união soviética e sobre os lideres revolucionários na história contemporânea.

A graduação em história pela UFPA que passou a funcionar em 1950, tem uma única modalidade que é a licenciatura, onde o prazo médio para conclusão do curso são de quatro anos. Existem disciplinas obrigatórias na UFPA que não estão no componente obrigatório da UFPE estão presentes na UFAL, a exemplo de antropologia e história e mentalidades (disciplina que dentre as universidades pesquisadas somente se encontra na UFPA).

Na disciplina de Teoria da História da Universidade Federal do Pará, esta escolhida pelo grupo para representar a região Norte do país, o conteúdo programático é dividido em VII módulos que tratam:

Módulo I: História, Hermenêutica e Historicidade
Módulo II: História e Narrativa
Módulo III: História e Memória
Módulo IV: História, ciência e verdade
Módulo V: História e Ciências Sociais
Módulo VI: História, Pós-modernidade e Representação
Módulo VII: História, Ética e Política.

Para tratar do primeiro módulo, citados na bibliografia, estão GADAMER¹ e SOARES². O primeiro, com sua obra prima “Verdade e Método – Esboços de uma Hermenêutica Filosófica”, publicada em 1960, com o objetivo de “apresentar o compreender do intérprete como fazendo parte de um acontecer que decorre do próprio texto que precisa de interpretação”. O segundo, em seu texto “Hermenêutica e Ciências Humanas”, cita a perspectiva de Gadamer e acrescenta que “a reflexão hermenêutica pode, isto sim, nos ajudar a entender melhor o que está em jogo nos processos interpretativos, do movimento da compreensão” (p. 102).

*¹GADAMER, Hans Georg: filósofo e, mais tarde, filólogo alemão. Recebeu o prêmio de mais alto reconhecimento acadêmico na Alemanha: Cavaleiro da Ordem de Mérito. Morreu aos 102 anos, sendo considerado o pensador mais longevo da história da filosofia ocidental.

Usado também nessa disciplina está Hayden White (“O texto histórico como artefato literário. In ____. Hayden White. Trópicos do Discurso.”), conhecido por suas críticas epistemológicas à historiografia, e por ser pioneiro em adaptar categorias originadas no campo da teoria literária para a análise da historiografia. White é usado no módulo II da disciplina.
Sem certeza, da minha parte, quanto ao módulo em que se encaixaria (obviamente no módulo II, mas, quiçá, no IV ou VI), o texto de David Carr (“La narrativa y el mundo real: um argumento em favor de la continuidade. Histórias. México, no. 14, julho a setembro de 1986, pp. 1527.”) também é usado para os estudos de tal disciplina. Carr afirma que, “longe de deformar os fatos que relata, a narrativa prolonga seus traços fundamentais. Em outras palavras, existiria uma comunidade formal de características entre a narrativa e a realidade humana, tanto a individual quanto a coletiva. As teorias que afirmam a descontinuidade entre narrativa e realidade argumentam com freqüência que a organização do texto em forma de relato impõe aos fatos a que se refere uma estrutura em forma de relato com começo, meio e fim - estrutura que procede do fato de narrar, não dos próprios fatos vividos no mundo real. A narrativa não passa de produto de uma construção do imaginário (da “imaginação histórica”, diz Hayden White); não tem qualquer veracidade, mesmo quando apoiada em fontes, pois não se trata de uma questão de documentação: tratar-se-ia de uma descontinuidade profunda. Não há começo, meio e fim na vida individual ou coletiva: há mera seqüência de eventos que “terminam” onde se quiser, mas nunca concluem, posto que sempre existem um antes e um depois. Se acreditarmos nas reconstruções narrativas, transformar-nos-emos em prisioneiros de um mito. A narrativa simplifica - elimina ruído, no sentido dado ao termo pela teoria da comunicação - e estrutura as coisas, mas isto nada tem a ver com o real, não o representa adequadamente. Trata-se de uma característica do texto, de um efeito textual: pertence unicamente aos textos, não à realidade.” (CARDOSO, Ciro Flamarion. Crítica de duas questões relativas ao anti-realismo epistemológico contemporâneo. 1998. P, 54-55.)
As posições de White e Carr são distintas quanto à narrativa. Percebe-se, então, um caminho para debates e discussões a cerca de tais posições.

Para o módulo III, tratando da Memória, são usados KOSELLECK*2 (2006) HALBWACHS*3(1990) e NORA*4 (1993). Halbwachs foi o criador do conceito de memória coletiva.

*2 KOSELLECK, Reinhart.

*3 HALBWACHS, Maurice.

*4 NORA, Pierre.


Tratando de História, ciência e verdade, módulo IV, são usados os textos de COLLIOT-THÉLÈNE, CASSIRER e RORTHY. Ernest Cassirer foi um dos mais importantes representantes neokantianos de Marburgo.


Os demais textos utilizados e seus respectivos autores encontram-se na bibliografia da disciplina.


A graduação em história da UFMG traz uma proposta de trabalho interessante, onde são vistas algumas disciplinas, tais como: política 1, arquivos e museus históricos, história da arte e história do capitalismo (cadeiras não encontradas de forma obrigatória nas outras instituições pesquisadas). Nos dedicaremos a detalhar, nesse começo, uma cadeira especifica desse curso: Introdução aos estudos históricos. O programa é dividido em unidades, totalizando três, começando por uma rápida exposição do trabalho de um historiador, dos seus desafios e abrangências sócias, passando pela antiguidade até os dias cotidianos. Trabalhando livros que tratam de Homero a Santo Agostinho e as antigas Escolas Históricas, revelando como esses empenharam seus ofícios ligados a área da historiografia.

Usando de trabalhos em grupo, com exposição de seminários, os alunos abordam esses temas iniciais dando condições de uma boa percepção de acolhimento com a profissão que escolheram. Com um aprofundamento maior, começam a trabalhar a história e o humanismo que devem do renascentismo, análise dos antiquários, a critica documental, chegando ao término da segunda unidade com um estudo no campo de conhecimento iluminista.

A cadeira trabalha muito com comparativas, do que se “fazia” e do que se inovou ou é criticado nos dias de academia atuais. Com essa metodologia mostra ao aluno uma visão, quem sabe, nova, dos acontecimentos passados e como eles são trabalhando e analisados dentro das concepções atuais mais aceitas de historiografia.

A ultima unidade e mais longa trata justamente dessa amostra de “ambos os lados” . A operação da escola metódica e criticas aos positivistas, fundamentos de Karl Marx a História, Escola dos Annales e o novo ofício do historiador. Sem trabalhar muito com textos da autoria dos pensadores, eles usam livro de terceiros que se tratam das idéias deles, para talvez melhorar o entendimento do que vem a ser ensinado na sala de aula. Com um grande acervo de livros listados na bibliografia, intitulados de “Básicos”, mostram ao aluno que mesmo o “muito é pouco” e que para se fazer, ou melhor, se entender de historiografia é necessária muita dedicação e leitura. O grande objetivo dessa disciplina é introduzir conceitos que servem para a formação do conhecimento histórico em vários momentos da sua constituição. Preservando o nome para uma talvez concepção de introdução a certo conhecimento, por mais que nos dias atuais ele não seja tão “direto e linear”. (Ou talvez nunca tenha sido;)

O que podemos observar de negativos é um não desligamento total da idéias positivistas, vendo que ainda a uma preocupação de estabelecer conceitos e normas ao trabalho de um historiador. Faltas na presença do professor em vários dias pode prejudicar a formação do acadêmico proporcionando assim uma não absorção dos conteúdos, e logo não conhecimento critico dos fatos como o programa desejava, formando assim no futuro historiadores não atualizados nas novas formas de pensar história. O professor tem um grande papel de estimular o aluno ao conhecimento, e a busca, talvez faltas excessivas mostrem descaso criando uma falta de interesse por esses objetivos. *

* A analise feita do programa da UFMG foi tirada da versão curricular de 2001 até os dias atuais. Nessa são pré estabelecidos os dias de falta do professor.

O curso de história na UFSC tem sua grade curricular que forma o profissional em duas habilitações (bacharel e licenciado), o tempo de formação mínimo para o profissional são de 5 anos. Nessa estrutura são vistas algumas disciplinas que não estão na grade curricular de outras instituições federais, tais como história da arte como disciplina obrigatória: tal disciplina acarretaria visões mais criticas em relação ao estudo da imagem como poder discursivo. Na UFSC, a disciplina de historia da áfrica é obrigatória, diferentemente, por exemplo, do que ocorre na UFAL, onde tal disciplina é ministrada de forma eletiva. O fato de tal disciplina ser posta na grade de forma obrigatória, sugere que a mesma é vista com importância relevante na formação dos historiadores. Foi observado também que a disciplina de economia , tão importante para complementar o conhecimento histórico, não tem sua relevância levada em consideração na grade curricular, pois é oferecida como uma disciplina eletiva.

Com relação à disciplina de introdução aos estudos históricos, os conteúdos são um pouco diferenciados, a exemplo de normas técnicas de apresentação de trabalhos acadêmicos, que seria mais plausível serem expostos em uma disciplina de português instrumental ou metodologia cientifica. Também são vistos aspectos como cronologia, idades, etapas e estágios da história, porém não ficou clara a forma de abordagem desse conteúdo. Na disciplina de teoria da história I (UFSC), existem conteúdos que são vistos em introdução aos estudos históricos (UFPE), tais como: positivismo, escola metódica, historicismo, racionalismo iluminista.

Com relação a bibliografia são trabalhados os seguintes autores: Marc Bloch, que e um dos fundadores da escola dos Annales. Braudel, que também pertence à escola dos Annales (2º geração). Le Goff, componente da 3º geração da escola dos Annales. Marx que é ainda hoje um dos principais teóricos do modo de produção socialista.

O trabalho realizado permitiu repensar sobre a necessidade de algumas disciplinas para formação do historiador e perceber como há uma heterogeneidade na estruturação do curso nas diversas instituições analisadas. Fica também a questão de como se torna fundamental para o historiador conseguir dominar os novos recursos tecnológicos que na sociedade atual é cada vez mais “natural” e oferecem uma grande diversidade de informações, indispensável a pesquisa histórica.


2 comentários:

Isabel Guillen disse...

Façam um conclusão. Bom trabalho, mas sem conclusão...

Maria, questionando o mundo disse...

Conclusão incluida no texto como você sugeriu, Isabel.
Atenciosamente,

O Grupo.