sábado, 24 de setembro de 2011

Análise dos Cursos de História nas Universidade do Brasil - Grupo 9

Com o intuito de desenvolver uma análise crítica sobre o curso de graduação em História, no Brasil, abordamos cinco Universidades de diferentes regiões. Dentre as várias, destacamos UFMG, UFGO, UERR, UFPR e UFPB, observando as disciplinas relacionadas à Introdução, Teoria, Metodologia da História e Historiografia.

Se hoje o conceito positivista está vencido, se faz necessária a explicação do porquê ainda adotamos, em algumas de nossas Universidades, disciplinas que remetem essas ideologias mesmo podendo não aplica-las. Em uma pesquisa profunda, há possibilidade de definir os motivos de ainda existirem tais cadeiras e de onde eles são decorrentes.

UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - UFPB

Com o objetivo de formar historiadores críticos aptos ao ensino de história e da prática historiográfica, o curso de licenciatura em História da universidade federal da Paraíba ( UFPB ) oferece em sua grade curricular o acesso a várias áreas do saber ( economia, filosofia, ciências sociais, antropologia ), o que explicita o caráter interdisciplinar do curso, muito importante para a construção do conhecimento do historiador.

Nesta apresentação pretendemos mostrar como é feita a abordagem nas cadeiras de Introdução aos Estudos Históricos, Introdução aos Estudos Históricos e Sociais, Teoria da História I e Teoria da História II. Pois é através dessas disciplinas que o historiador em formação é introduzido aos estudos da sua ciência e tem acesso ao instrumental teórico do qual fará uso no exercício da função do fazer história.

Na disciplina de Introdução aos Estudos Históricos o aluno é apresentado aos fundamentos que norteiam o conhecimento histórico. O que possibilita uma compreensão da importância do estudo da ciência da história, bem como um entendimento do que é, como evolui e como se produz conhecimento histórico.

Em aulas expositivas, grupos de leitura e discussão, e em seminários realizados pelos alunos são feitas as apresentações das principais escolas historiográficas e discussões sobre o exercício da reflexão histórica e a prática interdisciplinar. Também são discutidos os principais aspectos teóricos e metodológicos da produção da pesquisa histórica no Brasil e no mundo.

Na bibliografia adotada no curso encontramos o manual posivista escrito por Charles-Victor Langlois e Charles Seignobos “ Introdução aos estudos históricos “, o livro “ Sobre a história “ do historiador marxista Eric Hobsbawn e “ A história vigiada “, de Marc Ferro, que é da Escola dos Annales.

A matéria de Introdução aos Estudos Históricos e Sociais visa introduzir os alunos à teoria do conhecimento e à reflexão crítica sobre o saber produzido nas ciências sociais, sobre o conhecimento histórico e a sobre a importância da interdisciplinaridade.

Autores como os filósofos John Locke e René Descartes, Fernand Braudel e Peter Burke da Escola dos Annales, e Milton Santos com o seu “ Por uma geografia nova “ presentes na bibliografia adotada, nos mostram a importância da interdisciplinaridade no curso.

O objetivo do curso de Teoria da História I é fazer uma problematização do conhecimento histórico. Discutir temas como a cientificidade da história, teoria do conhecimento, verdade histórica, escrita da história e o ofício do historiador.

As referências bibliográficas contam com Michel Foucault, Hayden White, Astor Antônio Diehl e Ciro Flamarion Cardoso, entre outros.

Já em Teoria da História II o curso pretende oferecer um amplo painel sobre a configuração moderna da história e vincular esta questão aos debates historiográficos atuais, especialmente entre as noções de modernidade e pós-modernidade.

Nas referências bibliográficas do curso encontramos obras de filósofos como Aristóteles, Hegel, Marx, Foucault, Nietzsche, Heidegger, entre outros.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS - UFMG

O curso de graduação em história da UFMG, pertencente a Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, é estruturado em oito períodos com disciplinas obrigatórias e optativas. Tem o objetivo de tornar o aluno capaz de analisar e interpretar criticamente o processo histórico em sua multiplicidade de dimensões pelos mais variados dados fornecidos.

Ministrada no 1° período do curso, Introdução aos Estudos Históricos, visa adentrar as principais características conceituais que têm orientado a produção do conhecimento histórico em diferentes momentos de sua constituição. A cadeira estabelece uma linha de estudo que mostra o papel do historiador desde a formação dos conceitos Iluministas, passando pela escola Metódica positivista até chegar ao trabalho feito por Karl Marx. Daí em diante, percebemos a abordagem de textos que mapeiam a chamada história crítica, a influência da Escola dos Annales e a formação da historiografia contemporânea.

A Bibliografia básica utilizada no curso é bem extensa e totalmente adequada à linha de estudo que pretende seguir. Autores como BURKE, BRAUDEL (Escritos sobre a história), LE FERBVRE e BLOCH (Introdução à história) aparecem como influentes da escola francesa. BASSELAAR marca presença com o livro Introdução aos estudos históricos, BOURDÉ e MARTIN estão representados pela ótima obra As Escolas Históricas. Não ficam de fora outros nomes de grande contribuição como HOBSBAWM, CARR (Que é história) e HARTOG, além de muitos outros. Pelos autores nacionais destacam-se, além dos demais, MALERBA e REIS no estudo da escola metódica e da historiografia.

Já no 3° período do curso é aplicada a disciplina de Teoria e Metodologia da História, que propõe refletir sobre o estatuto do conhecimento histórico, dando ênfase em temas como: operação histórica, causalidade, temporalidade, narrativa, memória e verdade histórica. Todas as questões levarão em conta as abordagens produzidas pelos historicistas de ontem e hoje, os estruturalistas e seus críticos, como consta na ementa da matéria.

Podemos analisar pela sua bibliografia (tão ampla quanto a mencionada anteriormente) que a cadeira, além de lançar novos conceitos, dá certa continuidade a alguns textos trabalhados na disciplina de Introdução aos Estudos Históricos. São colocados como primordiais os autores CERTEAU, CHARTIER, HOBSBAWM e GINZBURG. A abordagem de WEBER é marcante, já que a cadeira se entrelaça nas ciências sociais. Vemos novamente a influência dos brasileiros REIS e, em grau maior, MALERBA.

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ - UFPR

Sendo a mais antiga do país, criada em 1912, a Universidade Federal do Paraná tem como objetivo do seu curso de graduação em História capacitar o aluno de transmitir o conhecimento produzido, realizar pesquisa e dominar os processos pelos quais o conhecimento historiográfico é elaborado, como diz sua ementa.

A disciplina de Teoria da História é dividida em quatro unidades aplicadas nos 1°, 2°, 5° e 6° períodos. Tem o objetivo de anexar o ofício do historiador e os conceitos fundamentais da história. Os mesmos são trabalhados no decorrer da cadeira de forma fragmentada com o intuito de introduzir o conceito de “tempo”, como forma do tempo histórico e o concreto, na construção do conhecimento.

Dividida nos 6° e 7° períodos, a matéria de Metodologia da História, visa tornar o historiador apto a interpretar as teorias, os métodos e os tipos de fontes. Pois o processo de elaboração de um projeto de pesquisa requer por em prática a operacionalização de uma pesquisa histórica.

Por meio da influência da Escola dos Annales, desenvolvendo uma crítica ao pensamento positivista, a disciplina de Introdução aos estudos da História, mostra todo o caminho feito pelo estatuto do fazer história, dos tempos da idade média até hoje. O curso guia-se pela historiografia atual que remonta esse pensamento da escola francesa.

Teoria da história e historiografia discute de que forma o conhecimento pode ser produzido, evidenciando a importância do uso do método e da racionalidade. Apresenta, também, uma sistematização entre as demais disciplinas científicas e como os estudos históricos e historiográficos podem se renovar como passar dos anos.

A abordagem do curso é abrangente, visto que os temas básicos são abordados, garantindo a formação do conhecimento dos conceitos fundamentais da história e na questão das tendências atuais da historiografia.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS - UFGO

A Universidade Federal de Goiás (UFGO), em seu curso de licenciatura em História, prioriza a cadeira Teoria e Metodologia da Historia, sem o uso de Introdução aos Estudos históricos em sua grade curricular.

Tal disciplina está dividida pela interdisciplinaridade; no primeiro período (Teoria e Metodologia da Historia) há uma forte conexão entre historiografia e filosofia, como, por exemplo As filosofias da história e a obra de José Carlos Reis A Historia entre a filosofia e a ciência. No segundo e terceiro período observa-se Teoria da historia I e II, respectivamente, onde a interdisciplinaridade é encontrada na história junto à sociologia, como por exemplo, em As modalidades: conhecimento científico e senso comum. A história como ciência social ( 2° período) A crise da razão iluminista e seu impacto sobre as ciências sociais e a história.

Baseado na analise feita das disciplinas, o curso segue sobre forte influência da escola dos Annales, seguindo uma linha de estudo de multidisciplinaridade, principalmente com a filosofia e a sociologia.

Infelizmente não foi possível fazer uma pesquisa mais profunda, devido a indisponibilidade bibliográfica das referentes disciplinas.

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE RORÁIMA - UERR

O curso de Historia foi instaurado em 2006 e fundamenta-se no exercício da pesquisa e docência, a fim compreender a sociedade e sua pluralidade. De forma crítica o historiador é formado a partir da ética, moral e responsabilidade; fortalecendo as bases: ensino, pesquisa e extensão.

Dentre as quarenta disciplinas obrigatórias oferecidas, na grade curricular do curso de Historia, iremos analisar quatro; todas com carga horária de 72hs. Destacamos Introdução aos estudos Históricos, Teoria da Historia séc XIX e XX e Historiografia Brasileira.

De forma coerente e objetiva vamos citar apenas algumas das obras renomadas, tendo em vista a variedade bibliográfica de cada disciplina:

Introdução aos Estudos Históricos possui uma bibliografia composta por cinco obras de autores distintos. Marc Bloch se faz presente entre eles com seu livro, inacabado, Apologia da historia ou oficio do historiadorque escreveu quando estava em cativeiro. O mesmo apresenta uma forte crítica à escola metódica e condensam as primeiras idéias da escola de Analles, esta obra é de suma importância por ser uma das obras essenciais para os historiadores. Na UERR essa disciplina mostra-se contra aos manuais positivistas, mostrando que uma boa história não é apenas feita de fatos, buscando interdisciplinaridade e quebrando as barreiras de temporalidade linear.

Teoria da História no séc. XIX contempla o estudo do pensamento e das correntes historiográficas. O iluminismo, historicismo, positivismo e marxismo são enfatizados nessa disciplina ao decorrer de cinco obras bibliográficas. Nela, as obras de contrapõem, ao ser colocado uma de cada linha de pensamento. Começando com o Tempo e Narrativa de Paul Ricoeur, um autor metódico, e terminando com José Carlos Reis, um autor pós-moderno, com a obra História e Teoria: historicismo, modernidade e verdade onde ele percorre de forma objetiva todas as “formas” que a historia já foi estudada, dos gregos aos pós- modernos.

Em meados do curso de Historia na UERR aplica-se a disciplina Teoria da Historia do séc.XX que analisa o pensamento e as correntes historiográficas desse século, ressaltando a Historia Cultural e correntes recentes. Ao possuir seis publicações em sua bibliografia, a disciplina, tem autores consagrados como Eric John Earnest Hobsbawm, marxista conhecido internacionalmente. Conta também com a obra de Perter Burke A escola dos Analles onde o mesmo contitui, de forma singular, os objetivos dessa escola e as críticas que a mesma desenvolve contra os historiadores positivistas. No âmbito da historia cultural, um dos representantes, da terceira geração da escola dos Annales, é Roger Chartier com a obra A História cultural.

A disciplina Historiografia brasileira, como o próprio nome já diz, visa analisar as diversas maneiras de se pensar historia neste país ao longo do tempo. Estudando os objetivos das correntes de pensamento, os historiadores coloniais, marxistas, a influência da escola dos Annales e as tendências historiográficas atuais. Em sua bibliografia são incorporadas seis obras, tais como As identidades do Brasil: De Varnhargem a FHC de José Carlos Reis e Historiografia Brasileira em Perspectivas de Marcos César Freitas.

CONCLUSÃO

Ao final de pesquisas e análises, podemos entender que mesmo algumas Universidades ainda carregando disciplinas as quais os nomes remetem a ideia positivista, observamos que o objetivo dos cursos é formar historiadores que construam o estatuto do fazer história de forma crítica e interdisciplinar. Mesmo sendo nova para o período histórico, a crítica à escola Metódica, guiada pela influência dos Annales, é o caminho seguido pelos cursos de graduação aqui analisados. O futuro historiador se depara com novos meios de produção historiográfica, novos pontos de abordagem dos temas visados, tudo com o intuito de expandir a construção do conhecimento.

Grupo: Kaio Lacet (UFMG), Paula Kelly (UERR), Edouard Brandão (UFPB), Diogo Chagas (UFGO) e Marcella Farias (UFPR).

Um comentário:

Isabel Guillen disse...

Bom trabalho. Sugiro que façam comentários relacionando os diversos cursos...