quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Leite Derramado

Link para download do livro de Chico Buarque Leite Derramado.


quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Curso de Historiografia. Textos para próxima aula:

Ivaldo Lima. Entre Pernambuco e a África

domingo, 9 de outubro de 2011

Uma cidade sem passado. Resenhas e ficha técnica.

Resenhas do filme Uma cidade sem passado.


FREITAS, História, Memória e esquecimento. Revista OPSIS
História, memória e silêncio em Uma cidade sem passado.


FICHA TÉCNICA DO FILME:
Título original: Das schreckliche Mädchen
Origem: Alemanha
Direção: Michael Verhoeven
Roteiro: Michael Verhoeven
Produção: Sentana Filmproduktion, ZDF, 1989
Elenco: Lena Stolze, Monika Baumgartner, Michael Gahr, Hans–Reinhard Muller, Robert Giggenbach, Kurt Weinzierl.
Duração: 93 min.
Sinopse: Drama. Estudante de uma pequena cidade da Alemanha decide escrever um trabalho escolar sobre a cidade na época do nazismo para concorrer em um concurso. Durante a pesquisa ela descobre a “verdadeira” cidade, bem como as atividades das pessoas durante o nazismo. Aborda a questão do resgate histórico e a importância da pesquisa para esclarecer a própria história.
Vencedor do Urso de Prata na categoria de melhor diretor, no Festival de Berlim de 1990.

Documentos históricos: a quem interessa o sigilo?

Segue abaixo, alguns links com textos sobre a polêmica envolvendo os documentos da época do regime militar.
Jobim: sigilo dos documentos. Artigo da Veja
Advogado da União Constrange Dilma. Carta Capital.
APERJ impede acesso a documentos históricos. Carlos Fico
Cresce apoio ao fim do sigilo de documentos históricos
Fim do sigilo eterno de documentos pode abrir feridas, diz Saney. Folha de São Paulo
Ação pelo fim do sigilo eterno está parado no STF

Pede-se aos alunos que, em duplas façam um comentário crítico relacionando a polêmica questão do sigilo dos documentos históricos no Brasil com o filme Uma cidade sem passado.

Documento - monumento


Não é monumento

Documentos históricos podem levar a equívocos em sala de aula quando encarados como prova dos fatos

Nilton Mullet Pereira e Fernando Seffner


sábado, 8 de outubro de 2011

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

PROF: ISABEL GUILLEN

GRUPO: FELIPE DAVSON

FILIPE KAMARGO

HABIB KHEDWE

LAILA ROBERTA

MARCILIO PEREIRA

ROSINETE GREICE

WANDERSON DA SILVA

AGUIRRE ROJAS, C. A. Antimanual do mau historiador ou como se fazer uma boa história crítica? Tradução de Jurandir Malerba. Londrina: Eduel, 2007.



Carlos Antonio Aguirre Rojas nascido na cidade do México, 1955, cientista social, teórico e pesquisador no México. Ph. D. em Economia pela UNAM(Universidade Nacional Autónoma do México) e pós na Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales, em Paris. Atualmente investigador Titular no Instituto de Investigação Social (UNAM- México), professor em varias universidades é um dos especialistas mundiais em Historia dos Annales. Entre suas principais obras se destacam Fernand Braudel y las ciencias humanas (Montesinos, Barcelona, 1996), La Escuela de los Annales. Ayer, Hoy, Mañana (Montesinos, Barcelona, 1999) y Antimanual Del mau historiador (Montesinos, Barcelona, 2007). Sentindo que a metodologia do ensino de história no México e em alguns países do mundo ainda é passada de forma retrograda, conservadora e desconectada das novas correntes e técnicas historiográficas. O historiador Carlos Antonio Aguirre Rojas resolveu criar uma espécie de “manifesto historiográfico” objetivando elucidar os historiadores nas novas formas de pensar a ciência histórica e historiográfica. Como se trata de um livro escrito com o intuito de inserir o leitor na boa historia crítica, seja este individuo historiador ou não, o texto foi escrito com uma linguagem simples, e com uma estrutura altamente didática, a fim de expressar a mensagem com a maior amplitude possível.

O autor traça um perfil atualizado das principais correntes historiográficas e critica muito a forma positivista de se fazer história, afirmando que a mesma tem uma idéia muito pobre e limitada, de que a história apenas deve se basear em textos escritos e não agrega grandes valores a outros tipos de fontes, define a história positivista apenas como investigadora do passado e não do presente, sempre enaltece os grandes feitos e é interpretada na visão dos vencedores, nesse seu argumento, é a força motriz da história. É justamente essa forma limitada de se fazer história que traz concepções negativas e coloca de lado alguns personagens importantes das engrenagens históricas e os que a fizeram e fazem até hoje. De acordo com seu livro a verdadeira história procura compreender a todas as classes que participam dos acontecimentos de interesse histórico, desde o mais influente político aos mais pobres operários.

Aguirre aborda uma nova corrente no estudo da história, a Escola dos Annales, um de suas idéias mais divulgadas buscava formar uma nova história mais critica e inserida num contexto social. E é muito citada no texto de Rojas, onde ele tenta definir algumas características dessa escola e torná-las mais compreensíveis. Dentre essas características, aborda o problema da interpretação histórica, que tem de ser vista como uma investigação dos fatos, e isso mostra uma visão da história em construção, ou seja, uma ciência inacabada e que ainda busca a melhor maneira de ser estudada. Fala sobre o efeito tempo na história que deve ser estudado com afinco e de maneira a entender que noções de temporalidade são mais complexas do que parecem, ou seja, o tempo tem diversas diferenças de acordo com a realidade vivida em cada nação, essas e outras idéias dos annales são estudadas mais profundamente no seu texto. Rojas em seu livro destaca a revolução cultural de 1968 que teve grande impacto nas ciências sociais. E define que uma das grandes ações dessa revolução foi a de propor um estudo mais unificado das ciências sociais. Dito isso o escritor começa a introduzir ideais de uma chamada quarta geração dos annales que tentam dar forma e estruturar essa nova maneira de estudar os valores histórico-sociais. Com essas novas concepções vieram também novos conceitos de história cultural, onde o fator micro histórico acabou sendo mais abordado e tido como base aos estudos de história em sua totalidade.

Em sua obra Rojas crítica também a visão pós-moderna que afirma que os discursos se explicam por si mesmos, essa ideologia que tenta reduzir a historia a um simples ato literário onde uma visão interpretativa e um estudo aprofundado dos documentos não podem ser tidos como correta, tenta destruir o valor de história como ciência, pois ninguém conseguirá alcançar a verdade. Ao enfatizar esse ponto de vista Jorras acaba tendo uma posição simplista do movimento pós-moderno, assim como se esquece de notar que o positivismo mesmo que de forma involuntária acaba em partes contribuindo para a formação da forma crítica de pensar. Pois a partir do momento que dita regras e limita a discussão historiográfica abre espaço para uma nova forma de pensar, uma forma que crítica e tenta buscar a verdade com questionamentos de tudo o que já foi dito, faz germinar na história uma forma critica de observação, já existente mais ainda não havia despertado com força total. Karl Marx para o autor é uma das principais bases dessa história critica, pois demonstra que as diferentes formas de ver a historiografia devem se basear em uma analise profunda de tudo o que ocorre nas épocas a que pertencem o objeto de estudo. Defini o conflito de classes como muito eficiente para uma construção e estudo total da história, isso porque algumas classes sempre terão mais espaço para construir essa ciência. Mas o historiador não deve ficar preso a isso tendo que investigar dando valor tanto aos vencedores como aos vencidos. O autor acredita profundamente na idéia de não estudar história de forma isoladamente, mas sim ser uma parte de um todo que envolve varias ciências e estudos da sociedade de uma maneira sistemática e procura mostrar uma “ciência também social e do vivo, atenta à perpétua transformação histórica de todas as coisas, e diretamente conectada, pelas mais diversas maneiras, com o tempo presente , assim como com nossa vida social mediata e imediata , em todas suas múltiplas e variadas manifestações” (ROJAS AGUIRRES 2007p-06). Mostra métodos diferentes dos habituais no México, esclarecendo uma historiografia diferente, portanto em seu antimanual do mau historiador enfatiza a necessidade de se formar um historiador crítico porque esse sim é capaz de escrever a verdadeira história. No seu livro mostra a idéia de uma “microhistória”, onde pequenas comunidades como a família ou até mesmo um individuo possa ser estudado a principio e depois colocado como parte integrante de um todo, sendo a mesma peça chave na construção da história global. Embora seu livro condene diversas maneiras de se fazer história não é objetivo do autor gerar um manual de como fazê-la, por isso mesmo ele não decidi fazer um manual e dizer aquilo que o historiador deve ou não fazer, mas um anti-manual por que ele não delimita as ações apenas sugere. Até porque no decorrer do livro com todas as críticas e anti-definições que são expostas, o leitor pode imaginar que no livro consiga encontrar todas as respostas e mostre um antídoto para essa história que considerada defasada.

No entanto ele deixa o livro em aberto, dando a entender que o seu objetivo não é impor uma nova metodologia, mas e sim conscientizar alertando e deixando a critério do historiador tentar alcançar ou não uma nova forma de se elaborar e estudar história. O livro fica lotado de contribuições que por muitas vezes tornam um pouco repetitivas, mas percebi-se que os assuntos tratados são de grande importância, isso implica na procura mais aprofundada dos assuntos estudados e num pensamento de confirmação de opiniões e não em uma norma a ser seguida. Portanto o livro Antimanual do mau historiador ou como se fazer uma boa história crítica? É uma boa leitura para a compreensão do ponto de vista critico de como deve ser constituída uma boa ciência história.

Para quem tiver interesse em saber qual o ponto de vista do autor em relação a outros tópicos relacionados aos estudos históricos, segue o link abaixo que mostra uma entrevista que foi concedida em cuba.

http://vimeo.com/22403350

http://vimeo.com/22395908.

GRUPO - 2 ANTIMANUAL DO MAU HISTORIADOR (RESENHA CORRIGIDA)

MEMBROS:Mario Rafael, Wolfgang Maciel, Mateus Melo, Arthur Valença, Jonas Augusto e Humberto Rafael.


Rojas, Carlos Antônio Aguirre. Antimanual do mau historiador ou como se fazer uma boa história crítica?. Londrina: EDUEL,2007


O livro inicia-se explicando o porquê de ser um Antimanual, e não um Manual. Pela visão do autor, a corrente historiográfica que se forma com força no México, seu país, é uma ala positivista, conservadora. Na academia, vão se formando, ano após ano, maus historiadores, usando, por exemplo, manuais. Os manuais, segundo o autor, servem para “simplificar idéias ou argumentos complicados, com o fim de torná-los acessíveis a um público cada vez mais amplo” (AGUIRRE ROJAS. 2007, p. 05), dando noções muito simplórias. O autor expressa sua inclinação a se voltar contra atos “bizarros” mais bem instalados no poder, pois cresceu vendo esse tipo de historiografia limitada; viu a história de uma perspectiva medíocre, pobre, por meio de manuais que querem simplificar o pensamento, quando o foco deveria ser simplificar a linguagem. Se o público atingido deve ser amplo? Sim, claro! Mas não como os positivistas propõem, através da limitação de grandes épocas e acontecimentos a datas e números e ações únicas que, de forma alguma, levariam a algo importante de fato.
            Rojas chama a atenção para a importância de se notar a repercussão da história em nosso mundo; “se praticarmos a análise histórica a partir da idéia da história em permanente mudança, e sempre enfocada na dialética entre permanência e transformação de todos os objetos de estudo, desembocamos necessariamente numa história genuinamente crítica” (AGUIRRE ROJAS. 2007, p. 07). Estudarem-se as crenças, a cultura em geral, dialogar os grandes acontecimentos com o que realmente acontecia e acontece nas sociedades, as batalhas e quem as batalhavam. Definitivamente, a história não é a ciência que estuda os fatos do passado. Passado e presente não estão tão separados como se pensa. Um se conecta ao outro. Não deve ser feita somente uma leitura dos arquivos; primeiramente que muito mais pode ser analisado que um documento: uma música, um quadro, uma obra, tudo que é produzido pelo povo envolvido em algum processo histórico; depois, é necessário um pensamento crítico, uma observação perspicaz da história e das sociedades em si. E não as sociedades separadamente. Com raras exceções alguma sociedade cresce sozinha. Muitas outras estão envolvidas em tais processos. Uma história puramente regional é falsa.
Em sua marcha na construção de uma historiografia mais rica, é muito inspirado pelos “conselhos” da Escola dos Annales o autor apresenta sete hábitos considerados por ele pecados capitais do mau historiador, sendo eles:
·         O positivismo, que reduza ciência história à simples erudição, limitando a amplitude da visão histórica.
·         O anacronismo em história, que diminui o potencial de entendimento dos fatos, na medida em que analisa acontecimentos ocorridos em épocas e meios sociais alheios como se todos estivessem submetidos à ética do tempo/lugar do historiador.
·         A divisão newtoniana do tempo, que acaba por levar o estudante ao erro de imaginar que cada século, por exemplo, acaba à meia-noite do dia 31 de dezembro, e não quando algum acontecimento histórico traz a mudança efetiva na vida das pessoas que caracteriza o tal período.
·         A noção limitada de que a história segue um curso progressista linear e indesviável, algo que, se fosse à expressão da realidade, não teria trazido a Segunda Guerra após a Primeira.
·          A atitude acrítica perante os fatos do presente e do passado, que geram um campo de estudos onde o que se encontra nas fontes documentais, ganha a autoridade do próprio Verbo.
·         A tentativa, em geral frustrada, de neutralidade perante o objeto de estudo, o que gera uma produção histórica feita sempre a partir de uma perspectiva que fica oculta até mesmo ao próprio produtor.
·         O Pós-Modernismo, que, numa total descrença na possibilidade de se chegar a um conhecimento sólido através dos traços que o passado deixa, reduz a história a mero apetrecho da literatura.

O autor define como o marco zero da historiografia crítica ou sua origem geral a segunda metade do século XIX no projeto crítico de Karl Marx. Antes desse período, os historiadores positivistas buscavam garantir, na história, a exatidão das ciências exatas, tentando descrever os fatos como eles aconteceram e desconsiderando os fatores externos que colaboraram para seu desfecho.
A partir da difusão da crítica de Marx aos métodos positivistas de “fazer história”, ao longo do século XX, algumas entidades intelectuais passaram a adotar o projeto de Marx e também a criticar as práticas positivistas como a escola de Frankfurt, os Austromarxistas ou Neomarxistas, autores atuais da história socialista britânica e as escolas marxistas alemã, italiana, polonesa entre outras. Partindo dessa posição Marxista de produzir história, buscava-se incluir a história no quadro das ciências sociais, pois não mais seriam observados só os documentos e os arquivos, o historiador agora contextualizaria sua pesquisa no seu tempo e analisaria todos os fatores sócio-econômicos que contribuíram para aquele acontecimento, pois, segundo Rojas, não é possível haver história crítica desconsiderando os movimentos sociais, as manifestações culturais populares, os interesses econômicos e as lutas das classes, como também as condições sociais gerais de todos os fenômenos históricos que serão analisados.
O autor aponta ainda a necessidade de que a nova história crítica considere todos os sentidos do fato histórico, inclusive as classes menos favorecidas, pois existe, de acordo com o autor, a necessidade de que a história seja construída a contrapelo do que ele chama de “discursos dominantes”. Esse tipo de história é posteriormente chamado de “Contra História” e “Contra Memória” por Michel Foucault.
Citando resultados da Revolução cultural de 1968, o autor fala dos meios de comunicação, que, de certo modo, exercem um papel contraditório na sociedade, pois o controle total das informações gera um poder que volta e meia pode ser usado de forma individualista. Rojas, creditando também a ela a criação da “quarta geração” dos Annales, aborda primeiramente os aspectos negativos dessa corrente, que, justamente por dar uma maior liberdade na escolha de temas, leva alguns historiadores à escolha de problemas banais. O principal lado positivo dessa quarta geração é o de conseguir mudar a perspectiva e o modo de abordagem dos problemas, onde eles agora são vistos de baixo para cima como os marxistas britânicos defendem e, fazendo assim com que indivíduos deixem de ser meros coadjuvantes de sua classe social para protagonistas da historia. Auxiliando esse método utiliza-se da microhistória analisando casos particulares e experiências históricas singulares, intensifica testemunhos de fontes variadas. Rojas chama o leitor a compreender também, que a existência da conexão de fatores externos e internos em um país, é a influencia e conseqüência de fatos ocorridos em qualquer lugar do planeta. 
Com um tom conclusivo e ratificante Rojas, levanta a questão referente ao modo em que a historia será ensinada em sala de aula, e que um bom historiador tendo uma boa compreensão dos dois principais temas do livro (crítica ao modelo positivista de historia e as novas correntes historiográficas que se destacaram ao longo do século XX) saberá abordar a historia crítica para com os seus alunos, reforça alguns temas secundários, fala da importância do individuo e do contexto, comenta da importância da biografia histórica, fala do vazio e da livre interpretação que o pós-modernismo criou, relembra a importância da história do vencido e fracassado, da simultaneidade em que a micro e a macrohistoria tem que ser contadas. 
O livro tem fácil compreensão e consegue manter um diálogo com o leitor por praticamente toda a obra. Exalta um tanto quanto excessivamente Karl Marx, passando a impressão um tanto quanto confusa sobre o próprio Rojas, pois ao mesmo tempo em que valoriza o novo ele contempla um modelo  que tem alguns aspectos falhos, porém cabe ao bom leitor participar da construção crítica desse conhecimento. Reforça bastante a idéia de que quanto mais aparatos, mais ciências de apoio melhor será o trabalho do historiador, quanto maior e menor for a ótica do historiador em alguma pesquisa, mais rica será sua pesquisa, obviamente sabendo ele diferenciar o ouro da pirita.
Por fim, nota-se que o autor peca ao analisar certas correntes de pensamento, como o próprio positivismo e o pós-modernismo, sob uma homogenia local, tomando a parte (México) pelo todo, que beira ao simplismo anacrônico que ele mesmo vem denunciar em seus sete pecados. Além disso, vale destacar que, em seu desprezo pouco moderado pelo positivismo, Rojas acaba por escorregar em sua própria ironia de “Antimanual”, pois se pensa que na medida em que é citado tudo o que não se deve fazer o que resta é a estrutura, ainda que elegantemente implícita, de um manual positivista.



Universidade Federal de Pernambuco
Departamento de História
Disciplina: Introdução aos Estudos Históricos
Prof. Isabel Guillen

Alunos:
Linaldo Fernandes
Victor Santos
José Viana
José Dário
João Victor
Jefferson Lopes
Lucas Henrique


AGUIRRE ROJAS, C.A. Antimanual do mau historiador ou como se fazer uma boa história crítica? Londrina: Eduel, 2007.

Doutor em economia pela UNAN (Universidad Nacional Autónoma de México), pós-doutorado em historia pela Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales em Paris, França. Atual investigador na UNAN. Autor de obras como Contrahistoria de la Revolución Mexicana (Coedición Ed. Universidad Michoacana – Ed. Contrahistorias, México, 2009); América Latina, Historia e Presente (Editorial Papirus, 2004). Este é Carlos Antonio Aguirre Rojas com sua atual formação e ocupação.

Procurando escrever um livro de historiografia onde essa estivesse mais compatível com os tempos em que nós vivemos, Carlos Antonio Aguirre Rojas em Antimanual do Mau Historiador ou Como se Fazer uma Boa História Crítica? Oferece os passos necessários de como se contar uma boa história e lança crítica ferrenha ao modo que até então se tem escrito a história mexicana.

Aguirre Rojas, claramente influenciado pelo marxismo e pela Escola dos Annales, encontra nessas duas correntes a melhor forma de se opor aquela tradição positivista historiográfica e um modelo mais adequado aos tempos atuais. Alegando ser necessário fazer não apenas uma história descritiva, mas reflexiva dos fatos. Tanto que chega a reservar capítulos inteiros do livro (3°, 4° e 5°) para enumerar “lições” desses movimentos.

Porém, antes disso, Rojas, no segundo capítulo lista sete, e outros, pecados que um mau historiador pode cometer no exercício de sua função, caso seja orientado pelas más ideias positivistas.

Entre esses sete pecados mencionados acima se encontram: a erudição, vista pelos positivistas como único método de fazer história; o anacronismo (que vem acompanho da falta de sensibilidade por parte do historiador com relação à mudança de época e indivíduos ao longo dos tempos); a noção mecânica de tempo newtoniana, divididas perfeitamente em unidades iguais; a ideia de progresso e linearidade da história; a atitude acrítica, sustentada na ideia que o historiador deve ser imparcial diante das fontes; e o sétimo e último pecado é a redução da história à sua dimensão narrativa e discursiva, perspectiva trazida pelos pós-modernistas.

Das lições marxistas que o autor enumera no capítulo três, está o estatuto da ciência histórica como consolidação de um projeto que é resultado de nossas ações; 2 - a ênfase que é dada aos temas e problemas sociais; 3 - a dimensão materialista como uma importante forma de se compreender a dicotomia entre classes, e outras dimensões; 4 - “a relevância fundamental que têm os fatos econômicos dentro dos processos sociais globais” (AGUIRRE ROJAS, 2007, p. 43); 5- “explicar os fenômenos históricos do ponto de vista da totalidade” (AGUIRRE ROJAS, 2007, p.44); 6 - estudar os fenômenos históricos sob uma perspectiva dialética; 7 - fazer uma história densamente crítica, muitas vezes, contrariando as classes dominantes.

 O capítulo VI tem por título Qual História Devemos Fazer e Ensinar Hoje? Um modelo para (Des)Armar, neste capítulo o autor faz um resumo sobre os outros capítulos e tenta oferecer recursos para uma boa história crítica, deixando bem claro a história positivista que se faz no México e como o conjunto de lições deixada por Marx, Escola dos Annales, movimento de 1968, foram ajudando a construir o saber histórico e o modo de pensar história como ciência.

Depois disto o autor começa a fazer umas séries de advertências e lições de como é difícil se fazer uma história crítica e como é fácil se acostumar a fazer uma história positivista. Segundo Rojas: “é muito fácil e exige menos esforços ser um mau historiador” (Rojas, 2007, pag.19).

O autor continua seu argumento sobre o pós-modernismo criticando a visão desse movimento que  tem a história como um simples trabalho de erudição e de manejos de “fatos”, que o exercício do historiador é resultado de pseudoverdades, ou seja, iguala o exercício do historiador ao do profissional de literatura. O autor argumenta contra essa oposição que fazem os pós-modernos, quando fala que o trabalho histórico resulta tanto da erudição, como da interpretação, a erudição e o estabelecimento rigoroso dos fatos marcam os pontos de partida enquanto que a interpretação restitui o sentido e significação dos fatos. O autor ainda fala da micro história italiana e como ela é importante para evitar “estereótipos” da evolução humana, pois a mesma nos dá a possibilidade de estudar histórias concretas, pequenas, singulares e a interessante inter-relação com a macro história. O autor ainda fala de como as classes populares como os indivíduos são importantes para a reflexão histórica. Que tanto os indivíduos como as sociedades possuem uma relação histórica e que transformam essa relação nunca deve ser ignorada mais inter-relacionada.

Finalizando, o autor fala da macro história italiana e sua relação com a micro história e cita a mesma como exemplo de uma boa história crítica, e como faz no livro inteiro advertindo quanto ao estilo de história positivista, deixando bem claro que sua intenção é advertir ao positivismo histórico e dá alguns  e como a história crítica é difícil e trabalhosa porém necessária no nosso mundo contemporâneo.

No quinto capitulo do livro o autor aborda os efeitos da Revolução cultural de 1968. Mesmo com as derrotas que os movimentos sociais e políticos sofreram, conseguiram uma transformação profunda nas estruturas de reprodução cultural de todas as sociedades.

A própria história e historiografia foram afetadas por essas transformações, as quais trouxeram velhas e novas correntes historiográficas, paradigmas, entre outras mudanças.

Deste modo o autor apresenta lições historiográficas tiradas dos últimos trinta anos pós 1968. Com a primeira sendo uma nova história cultural do social, nesta lição ao autor utiliza outros autores como argumentos para justificar suas opiniões, como Philipe Ariés e Roger Chartier.

Outra lição proposta pelo autor e segunda é expressa desta forma “reivindicação de uma história social diferenciada, focalizada particularmente em reconstruir a complexa dialética entre indivíduo e estruturas, ou entre agentes sociais, sejam individuais ou coletivos, e os contextos sociais globais dentro dos quais eles agem” (AGUIRRE ROJAS, 2007, p.69).

A terceira lição redigida pelo o escritor explica “história marxista e socialista britânica contemporânea” (AGUIRRE ROJAS, 2007, p.70) a qual faz relação a subgrupos e tendências em desenvolvimento.

Mais uma lição refere-se a uma lição metodológica que foi criada no em torno de uma revista a Quaderni Storici, essa metodologia apresentada fala para explicação de uma macrohistória era necessário estudar uma microhistória, para poder enriquecer a macro com os resultados da micro.

Uma quinta lição é escrita pelo autor referindo-se ainda a microhistória, com relação a possibilidade de uma análise e intensiva do universo micro. Seria como possibilitar uma análise total dos fatos, como documentos, elementos disponíveis dentro do microuniverso, também como as relações e processos vividos por esses personagens, comunidades como igualmente suas praticas e ações.

O sexto e ultimo ensinamento deste capitulo, mostra a importância do reconhecimento do paradigma indiciário em história geral quando estar estudando as classes populares, que segundo o autor sempre são emudecidas, marginalizadas, ou mesmo extinguidas de distintas maneiras.

No Cap. VI do livro ele conclui todo o processo desenvolvido em seu antimanual e aborda questões que ainda hoje são recorrentes. O autor fala sobre falsas oposições, uma das primeiras é a que fala sobre o trabalho como processo de erudição como de interpretação; outra falsa posição é a que contesta a história dos indivíduos; também tem a entre o individuo e a coletividade; mais uma falsa oposição seria a “história estrutural história dos sujeitos Criadores de sua própria história” (AGUIRRE ROJAS, 2007, p.93).


 Sabemos que a história sempre andou lado a lado com a política desde os gregos, e foi deixada de lado várias culturas, em particular a indígena, da qual Rojas cita no começo do seu livro, mas isso não quer dizer que não houve pensamentos contrários a essa forma de se fazer história no decorrer do tempo. Um exemplo é o movimento Zapatista, citado pelo próprio autor. Mas ainda assim, a historiografia continuou ligada ao poder político. A historiografia humanista e renascentista, nos séculos XVI ao XVIII não modificou muita coisa, mas trouxe duas tendências: a crítica erudita das fontes e a eliminação das lendas, milagres etc. No século XIX, não só a historiografia marxista que contribuiu para uma crítica de uma história de pensamento positivista. Existiram até historiadores positivistas, como Taine e Buckle, que tiveram um ponto de vista evolucionista e foram incorporando em seus estudos temas mais variados e abrangentes daqueles visto pela historiografia dominante. No começo do século XX, surgiram críticas e ataques ao positivismo, e essas posições intelectuais foram denominadas Revolta Antipositivista, que ousou rejeitar certo tipo ou concepção da razão iluminista.


Realmente, se delimitarmos a História em simples metodologias, seja ela positivista ou não, e não a abrir para que possa ser vista de outros ângulos, cercaremos o solo onde cultivamos a semente histórica, deixaremos de colher muito mais frutos do que já colhemos. Podemos considerar que a proposta do pensador mexicano pode ser um bom começo para podermos mudar essa concepção acrítica que temos vivenciado no estudo e ensino da história. O livro tem um bom conteúdo e recomendável para todo graduando em história lê-lo.

Resenha do livro Antimanual do mau historiador ou como se fazer uma boa história crítica? - Grupo 9

Grupo 9: Kaio Lacet, Paula Kelly, Edouard Brandão, Diogo Chagas, Marcella Farias, João Guilherme.

Referência bibliografia:( ROJAS, Carlos Antônio Aguirre. Antimanual do mau historiador ou como se fazer uma boa história crítica?. Londrina: EDUEL,2007)

Carlos Antônio Aguirre Rojas em seu livro, Antimanual do mau historiador ou como se fazer uma boa história crítica? (2007), toma como referência inicial a história dos indígenas zapatistas. Os mesmos, segundo o autor, foram sujeitos a relatos oficiais preconceituosos, que os tratam como “uma simples matéria prima dos conquistadores” (ROJAS, 2007 p.2). O objetivo central do Antimanual é reverter a grande divulgação da Escola Metódica, sobretudo no México, que resultou na produção, segundo ele, de uma história sem espaço para as “massas ou personagens anônimos”.

Cientista social, teórico, pesquisador e Ph.D. em Economia, Rojas decidiu escrever o Antimanual indo de encontro aos renomados manuais positivistas produzidos no século XIX. O mais famoso deles, o livro Introdução aos Estudos Históricos (1898) de LANGLOIS e SEIGNOBOS, serviu de base para organizar os princípios do método histórico em várias gerações e instituições. Segundo Aguirre, devemos repensar a historiografia e o “fazer história” de formas diferentes do que o criado no Séc. XIX, refletindo sobre dois aspectos: a crítica permanente da história oficial (positivista) e a indicação dos outros caminhos que essa ciência deve seguir.

Estruturado em seis capítulos, o livro permite que o leitor faça uma reflexão teórica e metodológica de como a história deve ser elaborada corretamente, seguindo um viés interdisciplinar, crítico e social. No entanto, é preciso atentar para a radicalização às críticas feitas ao pós-modernismo, pois o autor trata esse movimento de forma simplista, generalizando as suas várias dimensões. É perceptível, na abordagem geral, o favorecimento às ideias do Marxismo, assim como a dicotomia entre o bem e o mal, o novo e o velho que se faz quando são mencionadas as bases da escola metódica positivista.

Rojas, em sua obra, promove a análise crítica através do marxismo, da Escola dos Annales e da Revolução Cultural de 1968. A última promoveu uma renovação na historiografia, focalizando na reconstrução da “complexa dialética entre o individuo e estruturas [...] e os contextos sociais globais dentro dos quais eles agem” (ROJAS, 2007- p.69). É importante ressaltar que ao olhar para a partícula formadora das estruturas- o homem- o historiador pode-se entender melhor os fatores que constituem a sociedade, suas necessidades e ações.

Conforme o autor, o marxismo formulou as bases da história crítica e estabeleceu direcionamentos de como fazer uma “boa história”. Para Marx, o capitalismo é o gerador de todo pensamento crítico, “enquanto houver o capitalismo haverá um pensamento crítico, destinado a explicar sua natureza destrutiva e despótica” (ROJAS, 2007 p.37). O caráter social é o fator essencial para uma análise digna quando se leva em consideração todo o percurso histórico. O autor, notoriamente, possui uma visão marxista na forma como aborda os temas presentes em toda obra.

O teórico preocupa-se, entre outras coisas, com a visão newtoniana do tempo, vista sob a ótica dos positivistas. Para ele o tempo deve ser visto não de acordo com sua forma linear, pois isso limita o historiador. Concorda-se claramente com ele nesse ponto de vista, pois ao analisarmos cronologicamente distinguindo o passado, presente e futuro, estreitamos nossos conhecimentos e em consequência disso, passamos a olhar a história de forma anacrônica. A partir do momento em que analisamos os nossos antecessores com o ponto de vista presencial estamos tratando a história como mero jogo comparativo.

O caráter social do Antimanual é algo nítido. Para o analista, a história tem que ser observada também do ponto de vista social, colocando em evidências os pequenos personagens que formam as massas populares, discutindo a “economia moral da multidão” onde é analisada a repercussão dos grandes acontecimentos econômicos dentro da visão das camadas minoritárias, dando ênfase às microhistorias. É notório que a sistematização da história vista de “baixo para cima” constrói uma perspectiva mais integra da mesma, mas discorda-se que é impossível analisar, em totalidade, as microhistorias, pois elas são complexas, extensas e nem sempre acessíveis.

Outra influência mencionada anteriormente, a Escola dos Annales, estabelece que a comparação, entre fatos análogos de períodos próximos, possa trazer à história um sentido diversificado. Pois ao traçar escolhas e semelhanças sobre determinados contextos o historiador tende a distinguir melhor seus aspectos particulares. Uma lição proposta por essa Escola é a visão da história global. É importante essa forma de análise, pois delimita um fato pelo contexto amplo em que ele está inserido.

Aguirre Rojas, enfatiza a “história problema”, deixando específico que cada geração vai propor questionamentos a determinados fatos e dessa maneira a história está em constante construção. Hoje nós temos noções sobre o Iluminismo diferente das que tínhamos há cem anos, por exemplo. A problematização da história nos torna capaz de evoluir cientificamente a cada geração, pois a cada nova indagação obteremos novas repostas que serão, a primeira vista, mais completas das que foram proferidas há certo tempo.

Como proposta para a resolução do questionamento sugerido no título da obra, Antônio Rojas delimita que a “boa história” deve ter, antes de tudo, um viés crítico através de análises sociais, culturais, e econômicas das camadas populares. Deixando de lado as metodologias positivistas dos “maus historiadores”, a fim de eliminar a “história enfadonha” que é transmitida em várias regiões do mundo. Seguindo esse contexto é importante ressaltar que, no Brasil, pesquisas feitas por estudantes da UFPE concluíram que a maioria das universidades que oferecem o curso de História, neste país, já não utiliza os tradicionais manuais de história, afastando-se então da realidade observada no México ao longo desta publicação.

Resenha do livro Antimanual do mau historiador.

AGUIRRE ROJAS, C.A. Antimanual do mau historiador ou como se fazer uma boa história crítica? Tradução de Jurandir Malerba. Londrina: Eduel, 2007.

Publicado com o intuito de denunciar a má formação dos estudantes, decorrente do que é passado nas instituições superiores mexicanas e de apontar a idéia metódica presente em manuais, Rojas quer mostrar durante seu livro Antimanual do mau historiador, os principais pontos que um bom historiador não deve seguir, enfatizando que os profissionais em história devem ser “críticos, sérios, criativos e científicos” (AGUIRRE ROJAS, 2007, p.5).

O opúsculo aborda como se deve escrever a história e como podemos criar uma historiografia que seja adequada o suficiente tanto para ser publicada quanto para servir de alusão para outros historiógrafos e docentes da disciplina de história, com a intenção de melhor compreensão da mesma e sempre corroborando o fato de que a história não é uma disciplina fechada, e sim bastante multidisciplinar, utilizando diálogos constantes com outras ciências.

São apresentados alguns modelos de história crítica que visam romper com a metódica positivista, que foi nos séculos XIX e início do XX a forma hegemônica de fazer história. Para o autor: “A primeira versão da história crítica contemporânea, é representada pelo projeto crítico de Karl Marx” (AGUIRRE ROJAS, 2007, pag.36). O pensamento de entender a história em suas relações sociais e em sua dimensão econômica, o materialismo histórico, a dialética, a defesa de uma história de cunho popular e não apenas das elites, são algumas das principais propostas de história crítica deixadas por Karl Marx e muito bem expostas por Rojas em seu livro, o qual tem visivelmente uma grande tendência por essas idéias.

Aguirre Rojas também faz crítica constante ao livro positivista Introdução aos Estudos Históricos, de Charles-Victor Langlois e Chales Segnobos, publicado em 1898, o qual apresenta um argumento simplificado com finalidade de estar acessível a um maior grupo. Para o autor essas idéias positivistas ainda bastante difundidas nas universidades mexicanas, limitam e empobrecem o método de fazer história, portanto combater essas velhas idéias simplistas que foram citadas durante um dos sete pecados capitais do mau historiador, o positivismo, tem papel fundamental em seu livro.

Esses sete pecados citados ao decorrer do texto têm o intuito de mostrar os erros cometidos pelos maus historiadores, ao mesmo tempo com um caráter explicativo, visando à análise de uma história que compreende os outros campos da ciência, sempre problematizando, analisando a fundo todos os documentos que lhe é fornecido e fazendo reflexões teóricas. Em geral, essas propostas são muito bem colocadas e realistas, porém algumas vezes são carregadas de uma crítica um pouco exagerada por parte do autor, onde acaba generalizando a visão pós-modernista de reduzir a história ao narrativismo e homogeneíza e renega a contribuição historiográfica positivista, vista sempre como uma má história.

Outros projetos que ajudaram a repensar o fazer histórico positivista foram os acontecimentos de Maio de 1968, dando ênfase ao novo modelo de história cultural e às representações dos grupos, e a mais importante delas que foi a Escola dos Annales, uma corrente de intelectuais franceses, decorrente entre os anos de 1929 e 1968, que viria para “consolidar o projeto antipositivista de uma história crítica e inovadora” (AGUIRRE ROJAS, 2007, pag.52). A construção de uma história crítica proposta pelos Annales se daria à utilização de um método comparativo que ajudaria, por exemplo, a produzir uma história sobre o multiculturalismo brasileiro, a construção de uma história global e a valorização da interpretação dos fatos segundo o ponto de vista do historiador, desenvolvendo o conhecimento histórico passado atualmente pela maioria das universidades ocidentais formadoras de historiadores que buscam a construção de uma história científica e que analisa todo e qualquer aspecto de uma sociedade.

As mudanças com aspecto global, a partir de 1968, também vão influenciar em mudanças na historiografia, que irão sofrer influência da quarta geração dos Annales, a qual com certeza modificou a forma da história estudar cultura, promovendo uma grande abertura historiográfica além do surgimento de métodos pessoais para esses estudos. Esse movimento trouxe também o desenvolvimento de várias tendências e subgrupos, e a necessidade de olhar para a história de baixo para cima, analisando-a do ponto de vista da cultura popular. A Revolução de Maio de 1968 ressalta a importância de estudar a ação individual e analisar seu papel social, sabendo que esses podem sim com suas ações e crenças influenciar nas mudanças, valorizando o papel de um pequeno grupo social, que para os positivistas na maioria das vezes foram postos de lado, sem antes constatar sua função para as variações ocorridas na história.

Rojas monta um antimanual indispensável aos iniciantes em estudos históricos que pretendem construir uma história rica e elaborada. No capítulo final ele espera que com a apresentação desses métodos, o leitor construa uma história científica e assimile as diferenças entre uma boa história crítica e a má história positivista vigente no México, a qual difere bastante da realidade brasileira que pode ser vista através da pesquisa feita pelos alunos da cadeira de Introdução aos Estudos Históricos da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), onde é abordado o conteúdo que é passado dos cursos de licenciatura em história no Brasil, ficando claro o comprometimento de formar historiadores com novos modos de interpretar o mundo e a importância de uma história elaborada nesse processo.

Grupo 8: André Carvalho, Daniele Lins, Ígor Amarante, Merielen Araújo, Nadja Chagas, Rayanne Santos.

Universidade Federal de Pernambuco
Centro de Filosofia e Ciências Humanas
Departamento de História
Curso de Licenciatura em História, 1º período, noite
Disciplina de Introdução aos Estudos Históricos
Grupo 1: Alberto Luiz, Felipe Guilherme, Guilherme Fairbancks, Ivison Lima, Karine Ferreira e Wanderson Henrique.
Profª: Isabel Guillen
Resenha do livro:
ROJAS, Carlos Antonio Aguirre. Antimanual do mau historiador. Ou Como se fazer uma boa história crítica? Londrina: EDUEL, 2007.
Construindo uma Nova História
Building a New History

México, ano de 2002, um historiador chamado Carlos Antonio Aguirre Rojas lança um livro intitulado de Antimanual del mal historiador o ¿Cómo hacer una buena historia crítica? pela Editora La Vasija, que foi posteriormente traduzido por Jurandir Malerba aqui no Brasil, através da Editora da Universidade Estadual de Londrina em 2007. Por que ele escreveu este livro? Quais seus objetivos? O que estava acontecendo em seu país? Suas teses e preocupações eram coerentes? Seus argumentos são válidos? É o que tentaremos responder neste texto. Rojas, nasceu na cidade do México, no ano de 1955. Formado em ciências sociais e PhD em economia, hoje é professor da Escola Nacional de Antropologia e História no México. Ele está inserido num país que passou por várias transformações políticas, econômicas e sociais ao longo do século XX. Com destaques para a Revolução Mexicana em 1910, do Movimento Zapatista e do Movimento Neozapatista, que foram marcados pela luta das minorias oprimidas, exploradas e esquecidas da sociedade.

Os movimentos citados eram formados em sua maioria por índios que prezam pelo anonimato e advêm do estado mais pobre do México e que historiograficamente falando são personagens obscurecidos aos olhos da história. É nesse contexto que ele propõe uma mudança também na prática da história. Crítico ferrenho do modo positivista de como a história é ensinada nas escolas e universidades de seu país, ele também escreveu obras como: Uma história dos Annales (1921-2001) (2004), Historiografia Contemporânea em perspectiva crítica (2007), Historiografia no século XX: história e historiadores entre 1848 e 2025 (2004), sendo fortemente influenciado por autores como: Karl Marx, Fernand Braudel, March Bloch, Lucien Febvre, Michel Foucault, Carlo Ginzuburg, Edward Thompson, Ranajit Guha, Walter Benjamin e Norbert Elias, todos estes, defensores de uma nova história crítica. Rojas, lançou o livro, já citado, com o objetivo de quebrar com os manuais de história, como o Introdução aos Estudos Históricos (1948) de Charles Seignobos e Charles Victor Langlois e para apresentar sugestões, com enfoque no Marxismo e na Escola dos Annales, para a formação de historiadores críticos. A seguir, para melhor entendimento, faremos uma descrição da obra e depois uma análise crítica dos pontos principais abordados pelo autor.

No livro, Rojas tenta mostrar de forma categórica os erros cometidos pelos “maus Historiadores”. Em contraponto, ele demonstra formas alternativas de como construir uma nova historia e melhorá-la, deixando-a com um caráter crítico e politizado. Inicialmente ele busca selecionar os pontos que fazem com que a história se torne apenas um relato enfadonho, como foi feito por tantos autores em seus inúmeros manuais de maneira lastimavelmente metódicas e tristemente vinculadas como uma “equação” correta a ser seguida pelos historiadores, privando-os da liberdade de criação para seguir novas vertentes historiográficas. Dando continuidades a sua tese ele nos mostra as "antidefinições" e "antinoções", indicando o marxismo como um grande exemplo de transformação e nos mostrando o legado destas idéias que todas as ciências sociais carregam consigo até hoje, Rojas defende em seu livro a idéia de que a história não é só feita pelos grandes líderes, mas também pelo povo, pois é impossível negar a influência da sociedade dentro da história e historiografia. Como segundo ponto importante para construir uma boa história crítica o autor nos apresenta a escola dos Annales, que propõem o estudo da história de forma comparativa, interpretativa e também o despertar nos historiadores a importância da visão total ou global dos fatos, para que seja possível uma visão ampla da história, ele afirma que tanto a história quanto a historiografia, assim como os acontecimentos humanos, estão em constante processo de mudança, e precisam sempre estar sendo repensados por diferentes olhares de acordo com a época em que historiador está inserido. Por fim, Rojas mostra para nós, com mais uma enumeração de lições, as profundas marcas que a sociedade e em conseqüência disso a história, sofre em decorrência da revolução 1968, ao nos dar estas lições o autor torna a falar principalmente da herança crítica trazida por esta revolução cultural e o surgimento de novas correntes, tais como a francesa que é considerada, por assim dizer, a “quarta geração” dos Annales e a corrente italiana, que contribui para desenvolver uma nova perspectiva dentro da história, a microhistória, rompendo mais uma vez com os métodos tradicionais dando a possibilidade de mostrar a correlação da microhistoria e macrohistoria. Ao final de seu livro Rojas retomas os pontos já tratados anteriormente, para nos mostrar maneiras de como aplicar a nova história em nosso dia a dia.

Considerando o modo como o autor trata os pontos de vista abordados em seu livro, encontramos fortes conceitos marxistas corajosamente explícitos e amplamente difundidos em todo o livro, mostrando as contribuições das idéias de Marx, da escola dos Annales, não esquecendo a revolução cultural planetária de 1968, para nos mostrar diferentes modos de como podemos desenvolver uma boa história crítica e contextualizada. Podemos expor de maneira negativa a forma restritiva como o autor faz colocações no que diz respeito, aos pós-mordernos e “positivistas” em relação a como a história e historiografia são levadas em consideração dentro desses conceitos, pois os pós-modernos, embora pouco preocupados com a “finalidade” ou com criação de soluções para certos problemas expostos em suas críticas, buscavam quebrar tabus como a própria visão “positivista” de “verdades absolutas e intocáveis” dentro da historiografia. O ato de criar rótulos e generalizações gera uma dicotomia entre “mau e bom historiador” e pouco contribui para o desenvolvimento de uma crítica realmente construtiva que leve a reflexão de uma maneira coesa e deixe opiniões aberta à novas visões, porém o autor deixar claro em todo o livro seu posicionamento político, no qual sua crítica está plenamente embasada no que diz respeito a estas correntes, mostrando para nós a maneira como a história pode ter distorcidas vistas por ambos aspectos. Outra generalização encontrada, que pode ser facilmente questionada, é sua insinuação que aqui no Brasil as universidades ainda propaguem o modo positivista de fazer história, uma análise “simples” das bibliografias e perfis das disciplinas em algumas universidades espelhadas pelas regiões do nosso país, mostra que a busca para construir uma nova história crítica é uma luta que existe aqui no Brasil, muito embora tenhamos certeza de que ainda há um longo caminho para ser trilhado antes que possamos dizer que estas concepções estão superadas em nossas escolas e até mesmo dentro de nossas universidades.

Embora tenha recebido algumas críticas, podemos concluir que a obra de Rojas (2007) deve ser encarada como importantíssima no processo pedagógico do curso universitário em história, pois ajuda os estudantes a desmistificarem alguns conceitos e definições dessa ciência humana e seus métodos, deixando-os familiarizados com as correntes historiográficas mais recentes. A obra não tem a função de um manual, pois não dá receitas prontas de como fazer História, mas sim, apresenta para nós, uma série de aparatos e teorias das quais um bom historiador deve se cercar para produzir uma história coerente, abrangente e crítica. Mostrando ser autêntico e fiel aos seus posicionamentos políticos e historiográficos, Rojas, nos encoraja a despertar para o dever como historiadores e professores que somos ou seremos um dia, para que tenhamos o compromisso político e social de transmitir aos estudantes uma visão da história que está em constante transformação. A educação nos chama para cumprir o nosso dever de reescrever a história. Com esperança que todos nós podemos ser agente transformadores de nossa história.