sábado, 8 de outubro de 2011

Universidade Federal de Pernambuco
Centro de Filosofia e Ciências Humanas
Departamento de História
Curso de Licenciatura em História, 1º período, noite
Disciplina de Introdução aos Estudos Históricos
Grupo 1: Alberto Luiz, Felipe Guilherme, Guilherme Fairbancks, Ivison Lima, Karine Ferreira e Wanderson Henrique.
Profª: Isabel Guillen
Resenha do livro:
ROJAS, Carlos Antonio Aguirre. Antimanual do mau historiador. Ou Como se fazer uma boa história crítica? Londrina: EDUEL, 2007.
Construindo uma Nova História
Building a New History

México, ano de 2002, um historiador chamado Carlos Antonio Aguirre Rojas lança um livro intitulado de Antimanual del mal historiador o ¿Cómo hacer una buena historia crítica? pela Editora La Vasija, que foi posteriormente traduzido por Jurandir Malerba aqui no Brasil, através da Editora da Universidade Estadual de Londrina em 2007. Por que ele escreveu este livro? Quais seus objetivos? O que estava acontecendo em seu país? Suas teses e preocupações eram coerentes? Seus argumentos são válidos? É o que tentaremos responder neste texto. Rojas, nasceu na cidade do México, no ano de 1955. Formado em ciências sociais e PhD em economia, hoje é professor da Escola Nacional de Antropologia e História no México. Ele está inserido num país que passou por várias transformações políticas, econômicas e sociais ao longo do século XX. Com destaques para a Revolução Mexicana em 1910, do Movimento Zapatista e do Movimento Neozapatista, que foram marcados pela luta das minorias oprimidas, exploradas e esquecidas da sociedade.

Os movimentos citados eram formados em sua maioria por índios que prezam pelo anonimato e advêm do estado mais pobre do México e que historiograficamente falando são personagens obscurecidos aos olhos da história. É nesse contexto que ele propõe uma mudança também na prática da história. Crítico ferrenho do modo positivista de como a história é ensinada nas escolas e universidades de seu país, ele também escreveu obras como: Uma história dos Annales (1921-2001) (2004), Historiografia Contemporânea em perspectiva crítica (2007), Historiografia no século XX: história e historiadores entre 1848 e 2025 (2004), sendo fortemente influenciado por autores como: Karl Marx, Fernand Braudel, March Bloch, Lucien Febvre, Michel Foucault, Carlo Ginzuburg, Edward Thompson, Ranajit Guha, Walter Benjamin e Norbert Elias, todos estes, defensores de uma nova história crítica. Rojas, lançou o livro, já citado, com o objetivo de quebrar com os manuais de história, como o Introdução aos Estudos Históricos (1948) de Charles Seignobos e Charles Victor Langlois e para apresentar sugestões, com enfoque no Marxismo e na Escola dos Annales, para a formação de historiadores críticos. A seguir, para melhor entendimento, faremos uma descrição da obra e depois uma análise crítica dos pontos principais abordados pelo autor.

No livro, Rojas tenta mostrar de forma categórica os erros cometidos pelos “maus Historiadores”. Em contraponto, ele demonstra formas alternativas de como construir uma nova historia e melhorá-la, deixando-a com um caráter crítico e politizado. Inicialmente ele busca selecionar os pontos que fazem com que a história se torne apenas um relato enfadonho, como foi feito por tantos autores em seus inúmeros manuais de maneira lastimavelmente metódicas e tristemente vinculadas como uma “equação” correta a ser seguida pelos historiadores, privando-os da liberdade de criação para seguir novas vertentes historiográficas. Dando continuidades a sua tese ele nos mostra as "antidefinições" e "antinoções", indicando o marxismo como um grande exemplo de transformação e nos mostrando o legado destas idéias que todas as ciências sociais carregam consigo até hoje, Rojas defende em seu livro a idéia de que a história não é só feita pelos grandes líderes, mas também pelo povo, pois é impossível negar a influência da sociedade dentro da história e historiografia. Como segundo ponto importante para construir uma boa história crítica o autor nos apresenta a escola dos Annales, que propõem o estudo da história de forma comparativa, interpretativa e também o despertar nos historiadores a importância da visão total ou global dos fatos, para que seja possível uma visão ampla da história, ele afirma que tanto a história quanto a historiografia, assim como os acontecimentos humanos, estão em constante processo de mudança, e precisam sempre estar sendo repensados por diferentes olhares de acordo com a época em que historiador está inserido. Por fim, Rojas mostra para nós, com mais uma enumeração de lições, as profundas marcas que a sociedade e em conseqüência disso a história, sofre em decorrência da revolução 1968, ao nos dar estas lições o autor torna a falar principalmente da herança crítica trazida por esta revolução cultural e o surgimento de novas correntes, tais como a francesa que é considerada, por assim dizer, a “quarta geração” dos Annales e a corrente italiana, que contribui para desenvolver uma nova perspectiva dentro da história, a microhistória, rompendo mais uma vez com os métodos tradicionais dando a possibilidade de mostrar a correlação da microhistoria e macrohistoria. Ao final de seu livro Rojas retomas os pontos já tratados anteriormente, para nos mostrar maneiras de como aplicar a nova história em nosso dia a dia.

Considerando o modo como o autor trata os pontos de vista abordados em seu livro, encontramos fortes conceitos marxistas corajosamente explícitos e amplamente difundidos em todo o livro, mostrando as contribuições das idéias de Marx, da escola dos Annales, não esquecendo a revolução cultural planetária de 1968, para nos mostrar diferentes modos de como podemos desenvolver uma boa história crítica e contextualizada. Podemos expor de maneira negativa a forma restritiva como o autor faz colocações no que diz respeito, aos pós-mordernos e “positivistas” em relação a como a história e historiografia são levadas em consideração dentro desses conceitos, pois os pós-modernos, embora pouco preocupados com a “finalidade” ou com criação de soluções para certos problemas expostos em suas críticas, buscavam quebrar tabus como a própria visão “positivista” de “verdades absolutas e intocáveis” dentro da historiografia. O ato de criar rótulos e generalizações gera uma dicotomia entre “mau e bom historiador” e pouco contribui para o desenvolvimento de uma crítica realmente construtiva que leve a reflexão de uma maneira coesa e deixe opiniões aberta à novas visões, porém o autor deixar claro em todo o livro seu posicionamento político, no qual sua crítica está plenamente embasada no que diz respeito a estas correntes, mostrando para nós a maneira como a história pode ter distorcidas vistas por ambos aspectos. Outra generalização encontrada, que pode ser facilmente questionada, é sua insinuação que aqui no Brasil as universidades ainda propaguem o modo positivista de fazer história, uma análise “simples” das bibliografias e perfis das disciplinas em algumas universidades espelhadas pelas regiões do nosso país, mostra que a busca para construir uma nova história crítica é uma luta que existe aqui no Brasil, muito embora tenhamos certeza de que ainda há um longo caminho para ser trilhado antes que possamos dizer que estas concepções estão superadas em nossas escolas e até mesmo dentro de nossas universidades.

Embora tenha recebido algumas críticas, podemos concluir que a obra de Rojas (2007) deve ser encarada como importantíssima no processo pedagógico do curso universitário em história, pois ajuda os estudantes a desmistificarem alguns conceitos e definições dessa ciência humana e seus métodos, deixando-os familiarizados com as correntes historiográficas mais recentes. A obra não tem a função de um manual, pois não dá receitas prontas de como fazer História, mas sim, apresenta para nós, uma série de aparatos e teorias das quais um bom historiador deve se cercar para produzir uma história coerente, abrangente e crítica. Mostrando ser autêntico e fiel aos seus posicionamentos políticos e historiográficos, Rojas, nos encoraja a despertar para o dever como historiadores e professores que somos ou seremos um dia, para que tenhamos o compromisso político e social de transmitir aos estudantes uma visão da história que está em constante transformação. A educação nos chama para cumprir o nosso dever de reescrever a história. Com esperança que todos nós podemos ser agente transformadores de nossa história.

Um comentário:

Isabel Guillen disse...

Excelente trabalho. Corrija os pequenos erros de digitação...