sábado, 8 de outubro de 2011

GRUPO - 2 ANTIMANUAL DO MAU HISTORIADOR (RESENHA CORRIGIDA)

MEMBROS:Mario Rafael, Wolfgang Maciel, Mateus Melo, Arthur Valença, Jonas Augusto e Humberto Rafael.


Rojas, Carlos Antônio Aguirre. Antimanual do mau historiador ou como se fazer uma boa história crítica?. Londrina: EDUEL,2007


O livro inicia-se explicando o porquê de ser um Antimanual, e não um Manual. Pela visão do autor, a corrente historiográfica que se forma com força no México, seu país, é uma ala positivista, conservadora. Na academia, vão se formando, ano após ano, maus historiadores, usando, por exemplo, manuais. Os manuais, segundo o autor, servem para “simplificar idéias ou argumentos complicados, com o fim de torná-los acessíveis a um público cada vez mais amplo” (AGUIRRE ROJAS. 2007, p. 05), dando noções muito simplórias. O autor expressa sua inclinação a se voltar contra atos “bizarros” mais bem instalados no poder, pois cresceu vendo esse tipo de historiografia limitada; viu a história de uma perspectiva medíocre, pobre, por meio de manuais que querem simplificar o pensamento, quando o foco deveria ser simplificar a linguagem. Se o público atingido deve ser amplo? Sim, claro! Mas não como os positivistas propõem, através da limitação de grandes épocas e acontecimentos a datas e números e ações únicas que, de forma alguma, levariam a algo importante de fato.
            Rojas chama a atenção para a importância de se notar a repercussão da história em nosso mundo; “se praticarmos a análise histórica a partir da idéia da história em permanente mudança, e sempre enfocada na dialética entre permanência e transformação de todos os objetos de estudo, desembocamos necessariamente numa história genuinamente crítica” (AGUIRRE ROJAS. 2007, p. 07). Estudarem-se as crenças, a cultura em geral, dialogar os grandes acontecimentos com o que realmente acontecia e acontece nas sociedades, as batalhas e quem as batalhavam. Definitivamente, a história não é a ciência que estuda os fatos do passado. Passado e presente não estão tão separados como se pensa. Um se conecta ao outro. Não deve ser feita somente uma leitura dos arquivos; primeiramente que muito mais pode ser analisado que um documento: uma música, um quadro, uma obra, tudo que é produzido pelo povo envolvido em algum processo histórico; depois, é necessário um pensamento crítico, uma observação perspicaz da história e das sociedades em si. E não as sociedades separadamente. Com raras exceções alguma sociedade cresce sozinha. Muitas outras estão envolvidas em tais processos. Uma história puramente regional é falsa.
Em sua marcha na construção de uma historiografia mais rica, é muito inspirado pelos “conselhos” da Escola dos Annales o autor apresenta sete hábitos considerados por ele pecados capitais do mau historiador, sendo eles:
·         O positivismo, que reduza ciência história à simples erudição, limitando a amplitude da visão histórica.
·         O anacronismo em história, que diminui o potencial de entendimento dos fatos, na medida em que analisa acontecimentos ocorridos em épocas e meios sociais alheios como se todos estivessem submetidos à ética do tempo/lugar do historiador.
·         A divisão newtoniana do tempo, que acaba por levar o estudante ao erro de imaginar que cada século, por exemplo, acaba à meia-noite do dia 31 de dezembro, e não quando algum acontecimento histórico traz a mudança efetiva na vida das pessoas que caracteriza o tal período.
·         A noção limitada de que a história segue um curso progressista linear e indesviável, algo que, se fosse à expressão da realidade, não teria trazido a Segunda Guerra após a Primeira.
·          A atitude acrítica perante os fatos do presente e do passado, que geram um campo de estudos onde o que se encontra nas fontes documentais, ganha a autoridade do próprio Verbo.
·         A tentativa, em geral frustrada, de neutralidade perante o objeto de estudo, o que gera uma produção histórica feita sempre a partir de uma perspectiva que fica oculta até mesmo ao próprio produtor.
·         O Pós-Modernismo, que, numa total descrença na possibilidade de se chegar a um conhecimento sólido através dos traços que o passado deixa, reduz a história a mero apetrecho da literatura.

O autor define como o marco zero da historiografia crítica ou sua origem geral a segunda metade do século XIX no projeto crítico de Karl Marx. Antes desse período, os historiadores positivistas buscavam garantir, na história, a exatidão das ciências exatas, tentando descrever os fatos como eles aconteceram e desconsiderando os fatores externos que colaboraram para seu desfecho.
A partir da difusão da crítica de Marx aos métodos positivistas de “fazer história”, ao longo do século XX, algumas entidades intelectuais passaram a adotar o projeto de Marx e também a criticar as práticas positivistas como a escola de Frankfurt, os Austromarxistas ou Neomarxistas, autores atuais da história socialista britânica e as escolas marxistas alemã, italiana, polonesa entre outras. Partindo dessa posição Marxista de produzir história, buscava-se incluir a história no quadro das ciências sociais, pois não mais seriam observados só os documentos e os arquivos, o historiador agora contextualizaria sua pesquisa no seu tempo e analisaria todos os fatores sócio-econômicos que contribuíram para aquele acontecimento, pois, segundo Rojas, não é possível haver história crítica desconsiderando os movimentos sociais, as manifestações culturais populares, os interesses econômicos e as lutas das classes, como também as condições sociais gerais de todos os fenômenos históricos que serão analisados.
O autor aponta ainda a necessidade de que a nova história crítica considere todos os sentidos do fato histórico, inclusive as classes menos favorecidas, pois existe, de acordo com o autor, a necessidade de que a história seja construída a contrapelo do que ele chama de “discursos dominantes”. Esse tipo de história é posteriormente chamado de “Contra História” e “Contra Memória” por Michel Foucault.
Citando resultados da Revolução cultural de 1968, o autor fala dos meios de comunicação, que, de certo modo, exercem um papel contraditório na sociedade, pois o controle total das informações gera um poder que volta e meia pode ser usado de forma individualista. Rojas, creditando também a ela a criação da “quarta geração” dos Annales, aborda primeiramente os aspectos negativos dessa corrente, que, justamente por dar uma maior liberdade na escolha de temas, leva alguns historiadores à escolha de problemas banais. O principal lado positivo dessa quarta geração é o de conseguir mudar a perspectiva e o modo de abordagem dos problemas, onde eles agora são vistos de baixo para cima como os marxistas britânicos defendem e, fazendo assim com que indivíduos deixem de ser meros coadjuvantes de sua classe social para protagonistas da historia. Auxiliando esse método utiliza-se da microhistória analisando casos particulares e experiências históricas singulares, intensifica testemunhos de fontes variadas. Rojas chama o leitor a compreender também, que a existência da conexão de fatores externos e internos em um país, é a influencia e conseqüência de fatos ocorridos em qualquer lugar do planeta. 
Com um tom conclusivo e ratificante Rojas, levanta a questão referente ao modo em que a historia será ensinada em sala de aula, e que um bom historiador tendo uma boa compreensão dos dois principais temas do livro (crítica ao modelo positivista de historia e as novas correntes historiográficas que se destacaram ao longo do século XX) saberá abordar a historia crítica para com os seus alunos, reforça alguns temas secundários, fala da importância do individuo e do contexto, comenta da importância da biografia histórica, fala do vazio e da livre interpretação que o pós-modernismo criou, relembra a importância da história do vencido e fracassado, da simultaneidade em que a micro e a macrohistoria tem que ser contadas. 
O livro tem fácil compreensão e consegue manter um diálogo com o leitor por praticamente toda a obra. Exalta um tanto quanto excessivamente Karl Marx, passando a impressão um tanto quanto confusa sobre o próprio Rojas, pois ao mesmo tempo em que valoriza o novo ele contempla um modelo  que tem alguns aspectos falhos, porém cabe ao bom leitor participar da construção crítica desse conhecimento. Reforça bastante a idéia de que quanto mais aparatos, mais ciências de apoio melhor será o trabalho do historiador, quanto maior e menor for a ótica do historiador em alguma pesquisa, mais rica será sua pesquisa, obviamente sabendo ele diferenciar o ouro da pirita.
Por fim, nota-se que o autor peca ao analisar certas correntes de pensamento, como o próprio positivismo e o pós-modernismo, sob uma homogenia local, tomando a parte (México) pelo todo, que beira ao simplismo anacrônico que ele mesmo vem denunciar em seus sete pecados. Além disso, vale destacar que, em seu desprezo pouco moderado pelo positivismo, Rojas acaba por escorregar em sua própria ironia de “Antimanual”, pois se pensa que na medida em que é citado tudo o que não se deve fazer o que resta é a estrutura, ainda que elegantemente implícita, de um manual positivista.


2 comentários:

Triumph Divine disse...

Houveram algumas correções que não ponderam ser realizadas por deficiência do o editor do próprio blog, isso dito em relação a organização e apresentação on-line.

Isabel Guillen disse...

Bom trabalho!