sábado, 8 de outubro de 2011

Resenha do livro Antimanual do mau historiador.

AGUIRRE ROJAS, C.A. Antimanual do mau historiador ou como se fazer uma boa história crítica? Tradução de Jurandir Malerba. Londrina: Eduel, 2007.

Publicado com o intuito de denunciar a má formação dos estudantes, decorrente do que é passado nas instituições superiores mexicanas e de apontar a idéia metódica presente em manuais, Rojas quer mostrar durante seu livro Antimanual do mau historiador, os principais pontos que um bom historiador não deve seguir, enfatizando que os profissionais em história devem ser “críticos, sérios, criativos e científicos” (AGUIRRE ROJAS, 2007, p.5).

O opúsculo aborda como se deve escrever a história e como podemos criar uma historiografia que seja adequada o suficiente tanto para ser publicada quanto para servir de alusão para outros historiógrafos e docentes da disciplina de história, com a intenção de melhor compreensão da mesma e sempre corroborando o fato de que a história não é uma disciplina fechada, e sim bastante multidisciplinar, utilizando diálogos constantes com outras ciências.

São apresentados alguns modelos de história crítica que visam romper com a metódica positivista, que foi nos séculos XIX e início do XX a forma hegemônica de fazer história. Para o autor: “A primeira versão da história crítica contemporânea, é representada pelo projeto crítico de Karl Marx” (AGUIRRE ROJAS, 2007, pag.36). O pensamento de entender a história em suas relações sociais e em sua dimensão econômica, o materialismo histórico, a dialética, a defesa de uma história de cunho popular e não apenas das elites, são algumas das principais propostas de história crítica deixadas por Karl Marx e muito bem expostas por Rojas em seu livro, o qual tem visivelmente uma grande tendência por essas idéias.

Aguirre Rojas também faz crítica constante ao livro positivista Introdução aos Estudos Históricos, de Charles-Victor Langlois e Chales Segnobos, publicado em 1898, o qual apresenta um argumento simplificado com finalidade de estar acessível a um maior grupo. Para o autor essas idéias positivistas ainda bastante difundidas nas universidades mexicanas, limitam e empobrecem o método de fazer história, portanto combater essas velhas idéias simplistas que foram citadas durante um dos sete pecados capitais do mau historiador, o positivismo, tem papel fundamental em seu livro.

Esses sete pecados citados ao decorrer do texto têm o intuito de mostrar os erros cometidos pelos maus historiadores, ao mesmo tempo com um caráter explicativo, visando à análise de uma história que compreende os outros campos da ciência, sempre problematizando, analisando a fundo todos os documentos que lhe é fornecido e fazendo reflexões teóricas. Em geral, essas propostas são muito bem colocadas e realistas, porém algumas vezes são carregadas de uma crítica um pouco exagerada por parte do autor, onde acaba generalizando a visão pós-modernista de reduzir a história ao narrativismo e homogeneíza e renega a contribuição historiográfica positivista, vista sempre como uma má história.

Outros projetos que ajudaram a repensar o fazer histórico positivista foram os acontecimentos de Maio de 1968, dando ênfase ao novo modelo de história cultural e às representações dos grupos, e a mais importante delas que foi a Escola dos Annales, uma corrente de intelectuais franceses, decorrente entre os anos de 1929 e 1968, que viria para “consolidar o projeto antipositivista de uma história crítica e inovadora” (AGUIRRE ROJAS, 2007, pag.52). A construção de uma história crítica proposta pelos Annales se daria à utilização de um método comparativo que ajudaria, por exemplo, a produzir uma história sobre o multiculturalismo brasileiro, a construção de uma história global e a valorização da interpretação dos fatos segundo o ponto de vista do historiador, desenvolvendo o conhecimento histórico passado atualmente pela maioria das universidades ocidentais formadoras de historiadores que buscam a construção de uma história científica e que analisa todo e qualquer aspecto de uma sociedade.

As mudanças com aspecto global, a partir de 1968, também vão influenciar em mudanças na historiografia, que irão sofrer influência da quarta geração dos Annales, a qual com certeza modificou a forma da história estudar cultura, promovendo uma grande abertura historiográfica além do surgimento de métodos pessoais para esses estudos. Esse movimento trouxe também o desenvolvimento de várias tendências e subgrupos, e a necessidade de olhar para a história de baixo para cima, analisando-a do ponto de vista da cultura popular. A Revolução de Maio de 1968 ressalta a importância de estudar a ação individual e analisar seu papel social, sabendo que esses podem sim com suas ações e crenças influenciar nas mudanças, valorizando o papel de um pequeno grupo social, que para os positivistas na maioria das vezes foram postos de lado, sem antes constatar sua função para as variações ocorridas na história.

Rojas monta um antimanual indispensável aos iniciantes em estudos históricos que pretendem construir uma história rica e elaborada. No capítulo final ele espera que com a apresentação desses métodos, o leitor construa uma história científica e assimile as diferenças entre uma boa história crítica e a má história positivista vigente no México, a qual difere bastante da realidade brasileira que pode ser vista através da pesquisa feita pelos alunos da cadeira de Introdução aos Estudos Históricos da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), onde é abordado o conteúdo que é passado dos cursos de licenciatura em história no Brasil, ficando claro o comprometimento de formar historiadores com novos modos de interpretar o mundo e a importância de uma história elaborada nesse processo.

Grupo 8: André Carvalho, Daniele Lins, Ígor Amarante, Merielen Araújo, Nadja Chagas, Rayanne Santos.

2 comentários:

Isabel Guillen disse...

Excelente trabalho!

Unknown disse...

Concordo totalmente no extremismmo tomado pelo autor contra o positivismo, porem, ótimo livro.