sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Correção da Pesquisa sobre as universidades do Brasil - Grupo 2

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS – CFCH
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA 
CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA
DISCIPLINA DE INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS

GRUPO 2: Mario Rafael, Wolfgang Maciel, Mateus Melo, Arthur Valença, Jonas Augusto e Humberto Rafael.

Esse texto tem a finalidade de traçar um perfil das abordagens das questões da historiografia nas universidades de diversas regiões do Brasil. Logo atentamos para o fato de que nossa abordagem trabalha com poucas instituições, de modo que uma análise mais coesa, precisa e global se dará pela união dos esforços dos demais grupos que desenvolvem esse trabalho paralelo ao nosso. Utilizamos a comparação entre as ementas e bibliografias para definir como as disciplinas de introdução dos cursos de graduação em história vêem a importância da historiografia crítica na formação dos novos historiadores e de que modo ela é abordada em cada instituição. Foram estudadas as ementas e bibliografias das seguintes universidades: UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), Unicap (Universidade Católica de Pernambuco), UNIR (Universidade Federal de Rondônia), UFU (Universidade Federal de Uberlândia) e a Unicamp (Universidade de Campinas).

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL


Nessa instituição, de acordo com o programa noturno de Licenciatura em História, a disciplina introdutória do curso é a de Introdução à História. Em sua ementa, a disciplina tem a finalidade de mostrar as características do conhecimento histórico em relação a sua temática, teorias, metodologias e técnicas com a intenção de aproximar o aluno iniciante dos conteúdos que serão desenvolvidos ao longo do curso. 
Apresenta uma bibliografia com autores contemporâneos e antigos, como Hobsbawnm, com sua abordagem crítica que utiliza o método Marxista de análise da história, pós-moderno e antipositivista; a historiadora Maria Vieira que em seu livro A Pesquisa em História aponta para a importância da análise dos documentos para a produção textual historiográfica. Porém sua abordagem não remete ao positivismo, onde o historiador deveria ser formado nos documentos e arquivos. Vieira adverte em sua obra que os documentos, por si mesmos, não fazem o historiador, que o contexto e o tempo devem ser levados em consideração na investigação documental de modo que o trabalho final não seja só uma catalogação de fatos documentados e sim historia com todas as suas implicações e resultados. O autor Cezar Guazzelli, que tem foco nas técnicas do trabalho historiográfico contemporâneo e a reflexão teórico-metodológica dos historiadores Brasileiros. O historiador Mexicano Carlos Pereyra Gomez, no livro utilizado: “História, para qué?”, se mostra um autor de tendências positivistas, realiza sua formação no final do século XIX e tem sua obra influenciada por essa corrente. A bibliografia também inclui a leitura obrigatória dos autores: José Roberto do Amaral Lapa, (que destaca que o ensino e o estudo compõem uma instância única e inseparável do fazer da História), Ronald Polito e Carlos Fico. 

A Bibliografia da UFRGS se mostra bem enxuta em relação às demais universidades e aponta uma tendência um pouco mais conservadora, não se mostrando tão Marxista e pós-moderna, mas também não sendo indiferente à formação do historiador com uma visão crítica. Os demais autores de sua bibliografia têm o foco na produção textual na academia, como se inserida na disciplina de Introdução à História também estivesse algo como metodologia de pesquisa acadêmica.

UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO


O curso de história da Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP) é apenas oferecido no modo licenciatura. Diferente de várias universidades, a matéria de Introdução à Historia tem o nome de Metodologia da Historia, algo que já diz muito sobre a ótica em que a matéria é estudada, haja vista que o nome de Introdução à Historia é um termo positivista, podendo ser visto no manual “Introdução as Estudos Históricos” de Ch. V. Langlois e Ch. Seignobos. A ementa da disciplina consiste em conceituações gerais e especificidades do conhecimento histórico, saber qual é o papel do historiador na produção do conhecimento histórico, as escolas históricas e suas propostas metodológicas e relacionar o oficio do historiador com outros campos científicos.


A sua bibliografia conta com Marc Bloch e sua obra “Apologia da Historia ou O Oficio do Historiador”, que, com uma escrita combatente, conseguiu deixar fundamentadas e registradas as bases escritas do que constituiria a Escola dos Annales. Guy Bourdé e Hervé Martin, com a obra “As escolas históricas”, são também estudados pela bibliografia da disciplina, além de Paul Veyne com “Como se escreve a história” e Foucault, que revoluciona a história. Em seu livro, Veyne não se propõe a tratar assuntos comuns aos historiadores como a nouvelle histoire ou o positivismo. Nele, o autor imerge mais profundamente no tema, esmiuçando-o.
Peter Burke, em “A Escrita da História”, publicado originalmente em 1991, discute as mudanças ocorridas na historiografia a partir do surgimento da corrente chamada Nova História. Para isso, vários novos temas da história, entre eles, a história das mulheres, o renascimento da narrativa e a história oral, ganham capítulos especiais. Os modos de escrever a História são o ponto central da obra.
Carlo Ginsburg, em “Mitos, emblemas, sinais: morfologia da historia”, parte dos nomes Freud, Sherlock Holmes e Morelli (crítico de arte) e constrói o paradigma de um saber indiciário', um método de conhecimento cuja força está na observação do pormenor revelador, mais do que na dedução.
José Carlos Reis, em “Nouvelle histoire e tempo histórico: a contribuição de Febvre, Bloch e Braudel” trata da idéia do tempo da História-disciplina e das dificuldades de sua percepção e construção pelos historiadores.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA


A Universidade Federal de Rondônia (UNIR) mostra valorizar a Escola dos Annales. Em sua ementa mostra a tentativa de se trabalhar a história como crítica, além de debater a questão do tempo, um tema bastante polêmico e complicado. Propõe a interdisciplinarização da história, o envolvimento da história com outras ciências auxiliares.O confronto sempre foi importante, e na UNIR não é diferente. Por isso mesmo, os professores de Introdução aos Estudos Históricos procuram enfrentar o positivismo com o Marxismo e com a Escola dos Annales. É necessário conhecer para se criticar, e o estudo do positivismo antes da oposição é preciso, mas uma coisa é inegável: o viés atual da UNIR tende para os escritores “filhos” da l’École des Annales. Na bibliografia da cadeira encontramos uma forte presença desses escritores, como Jacques Le Goff, membro da terceira geração. Como base, temos a presença do cérebro ilustre de Marc Bloch, com “Introdução à História”. Além desses, temos Ciro Flamarion Santana Cardoso – historiadores brasileiros de base Marxista –, o inglês Peter Burke, com “A Escola dos Annales: (1929 - 1989) A Revolução Francesa da Historiografia”; os franceses Pierre Vilar (Iniciación al Vocabulário Del análisis Histórico, Roger Chartier (A História Cultural) e François Dossé (A História em Migalhas).
Os livros desses escritores renomados são estudados e, com isso, a essência da UNIR fica inegável: Escola dos Annales. Uma visão nova de história, com crítica, com discussão, com diálogo constante e incessante, com uma reflexão árdua e criativa.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA


Tomando como base os dados que constam no site da Universidade Federal de Uberlândia, podemos observar a ênfase que o curso dá na formação de profissionais de história bem embasados. Base essa que vai desde obras fundamentais, como Heródoto, com “História”, que é uma das obras primordiais ao conhecimento do historiador; e passa por filósofos, como o francês Renê Descartes, com “O Discurso do Método”, e Hegel, grande filósofo alemão com a obra “Filosofia da História”, destacando especialmente Karl Marx, que foi o precursor do método de historiografia critica (método que considera a produção do texto historiográfico uma etapa importante na produção da ciência) com “O Manifesto do Partido Comunista” (escrito juntamente com Friedrich Engels, chegando até destacados historiadores modernos como Eric Hobsbawm, marxista e defensor da historia crítica, e Marc Bloch, renomado estudioso da teoria da história.
A presença de autores como Jacques Le Goff, historiador francês autor de diversos livros sobre a Escola dos Annales (movimento que amadurece as idéias germinadas no marxismo), Hobsbawn e Bloch sugere a adoção pela universidade de um estímulo à busca pela produção de uma história crítica, que age por meio de problemas históricos que o historiador tem por objetivo resolver. Além disso, a disciplina explana todas as escolas historiográficas precedentes, como positivismo e pós-modernismo, e as problemáticas acerca dos seus métodos de produção historiográfica, traçando uma linha de evolução da ciência histórica e suas tendências.

UNIVERSIDADE DE CAMPINAS


Na Universidade de Campinas – SP, a disciplina que transmite ao aluno os seus primeiros contatos com a historiografia, carrega em si carrega também o nome positivista de “Introdução ao Estudo da História” e, não obstante, conta com conteúdo e bibliografia mais amplos e atualizados, dando enfoque – como promete sua ementa – aos conceitos e modos de interpretação centrais ao conhecimento histórico atual, permite que o aluno conheça a metodologia clássica de fazer a História através apenas de sua crítica, tendo “Introdução à História” (Bloch, Lisboa, 1965), obra clássica da Escola dos Annales, como a obra mais antiga de sua bibliografia.
Contando ainda, em suas leituras, com romances históricos de peso, como “O Retorno de Martin Guerre” (Davis, Rio de Janeiro, 1987) e “O queijo e os vermes: o cotidiano e as idéias de um moleiro perseguido pela inquisição” (Ginzburg, São Paulo, 1987) a inclinação primordial da disciplina aparenta se dar na direção de um enfoque mais moderno da história, numa forma de ver o sujeito comum dentro dela como fatal parte integrante e participativa de sua construção, e de analisar os efeitos que, fazendo o caminho contrário, os fatos históricos podem gerar na vivência individual. 

Num real rompimento com qualquer ranço positivista que ainda possa subsistir no universo acadêmico, ou na forma de o aluno tender a visualizar a História, livros como História e Verdade (Schaff, São Paulo, 1983) permitem ao estudante chegar a reflexões apuradas acerca da dicotomia entre os procedimentos idealista e positivista na concretude dos fatos, não tomando, o autor, nenhum desses como caminho uno para a verdade, mas resolvendo esse paradoxo se usando da dialética marxiana e propondo uma nova forma de construção do conhecimento, na expressão individual dos fatos.

CONCLUSÃO


É perceptível que as universidades brasileiras estão se atualizando em relação ao conteúdo estudado. Adotam escritores pós-modernos, analistas, que criticam e pesquisam, que trabalham por uma nova história, uma história que não privilegia os vencedores nem as hegemonias dominantes de determinado período histórico. Aquela história, feita de forma ritualizada e até elitista tem perdido espaço. A presença da Escola dos Annales é completamente inegável, assim com a idéia marxista de uma história crítica Essas correntes estão presentes em todas as regiões do Brasil e em grande maioria nas universidades pesquisadas tendo uma influência positiva na formação do novo historiador.

4 comentários:

Satirev disse...

Professora, como não houve espaço para a realização da leitura integral de cada uma das obras das bibliografias estudadas, só pôde-se contar com fontes secundárias sobre as mesmas como as que se seguem, onde tal obra (O Retorno de Martin Guerre) é, assim como na presente publicação, chamada de "Romance Histórico":

http://projetos.unioeste.br/eventos/cellip/moodle/mod/glossary/view.php?id=290

http://web03.unicentro.br/pet/pdf/09_joao.pdf

Isabel Guillen disse...

Olá. eu olhei esse site que vocês postaram o link, mas não encontrei nada... O que eu sei é que os livros O retorno de Martins Guerre e O queijo e os vermes não podem ser considerados "romance histórico". Acho que os autores ficariam revoltados com essa classificação. Ainda que eles tenham uma preocupação com a narrativa, não retira dos textos o seu caráter de história (discussão historiográfica, trato com documentação, etc). Eu não sou a única a considerar que tratar estes livros como "romance" é um abuso... Pensem nisso.

Satirev disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Satirev disse...

Professora, a mostragem das nossas fontes não visou tentar "provar" o caráter de romance nas tais obras, mas apenas mostrar que nossa falha não se deu por motivos de displicência. Abrindo o primeiro dos links, com a ajuda de um ctrl+F pode-se encontrar a parte em que tal obra é citada como "romance histórico". Já no segundo dos links, pode-se ler tal denominação logo no primeiro parágrafo.
De todo modo, nos pomos felizes pelo esclarecimento.