sábado, 8 de outubro de 2011

Do Positivismo à História Crítica - Grupo 4

Bibliografia: Rojas, Carlos Antônio Aguirre. Antimanual do mau historiador. Ou como se fazer uma boa história crítica? Tradução de Jurandir Malerba. Londrina: Edual, 2007.

O surgimento do livro Antimanual do mau historiador se deu pelo desejo de Carlos Antonio Aguirre Rojas em desconstruir a abordagem fundamentalista presente nos manuais: Introdução aos estudos históricos (1948), de autoria de Charles-Victos Langlois (1863-1929) e Charles Seignobos (1854-1942) fizeram com que o autor da obra: América Latina na Encruzilhada. (En español: Na América Latina em La Encrucijada...) e Retratos da história. Testes de contra-história intelectual. (En español: Retratos para La história), a mesma como mencionada anteriormente, tida como história oficial até os dias de hoje, alegando que o manual, ao dizer o que se deve fazer, restringe a produção da historiografia de forma acrítica, enfadonha, tediosa e pobre, ou seja, o que o autor chama de história positivista.
Tal autor estrutura seu texto em seis capítulos, onde em cada inicio de capitulo há uma frase de um teórico, a exemplo dos marxistas Engels e Marx e dos pertencentes à escola dos Annales. Esse posicionamento não seria ao acaso, o que já nos mostra uma inclinação do autor para com o marxismo, a primeira geração dos Annales (Marc Bloch e Lucien Febvre) e a segunda geração (Ferdinand Braudel). As frases em questão são bastante persuasivas, ecoando a intencionalidade do autor no emergir do texto.
De maneira incisiva o autor externaliza durante todo o texto, o positivismo como sendo a incapacidade de compreensão crítica dos fatos históricos e sobre essa perspectiva a análise de Rojas faz-se entender que ficam renegados em segundo plano as minorias, os vencidos, os iletrados que são trabalhados discursivamente como meros elementos estáticos da sociedade. Através de argumentos como estes ele julga serem as ideias positivistas um dos principais pecados do mau historiador. Dentro desse mesmo positivismo os personagens centrais (grandes homens com status e poder) são exaltados, contraponto o que é mostrado em seu Antimanual. O autor defende como uma boa história crítica o reconhecimento do valor das massas nos movimentos sociais assim como as obras dos grandes homens que por vezes lideraram essas massas.
Concordando com o pensamento de Marc Bloch, que afirma que a história é o estudo da “obra dos homens no tempo”, o autor mostra que devem ter seu valor reconhecido tanto as massas quanto os personagens principais, se apropriando deste argumento para discordar de forma severa da ideia positivista já citada anteriormente. Ele também homegeiniza os positivistas descartando sua contribuição para a historiografia, assim como desconsidera suas divergências internas.
Quando o autor do antimanual utiliza-se da visão Marxista para autenticar uma boa história crítica ele faz uma distinção entre o “bom” e o “mau” marxismo, o que não acontece no positivismo nem no pós-modernismo, sendo o “mau marxismo” chamado de vulgar pelo mesmo, explicando a história de todas as sociedades humanas em todas as épocas através de fatos materiais em sua essência econômicos e técnicos. Ao afirmar que o materialismo de Marx é “... simplesmente um papel central inegável na vida humana” (Aguirre Rojas, 2007), ele retira o determinismo econômico do materialismo histórico de Marx, mostrando que tal visão seria errônea, atribuindo essa modificação ao “bom marxismo”. Com esse argumento ele deixa em aberto o problema das bases econômicas na sociedade que segundo o mesmo deve ser definido em cada caso concreto.
Percebe-se um relativismo do autor ao abordar o marxismo. Como forma de relacionar a abordagem histórica marxista ao seu discurso, ele está por vezes afirmando expressões tais como: o “historiador crítico sabe”. Outro conceito que Marx utilizou e que o autor aplica para construir seus argumentos é o da Dialética, que, segundo o mesmo, vários historiadores enxergam os fatos históricos como “... realidades mortas, acabadas e dissecadas” (Aguirre Rojas, 2007), sob essa perspectiva dialética ele afirma os fatos históricos como realidades vivas, em construção, processos dinâmicos abertos à redefinição constante, atribuindo assim a ideia de movimento que foi retirada da análise positivista da história.
Dentro dessa discussão sobre o modo de ver e ensinar a história, a escola dos Annales é constantemente citada no texto, porém há uma diferenciação dentre os seus aspectos de abordagem e suas idéias, diferenciação esta que o autor vai utilizar para ratificar sua visão de uma história crítica e totalizante.
No que se refere à primeira geração da escola dos Annales 1929 – 1941, como mostrado no texto, o autor reconhece um grande mérito devido principalmente ao caráter reivindicador, aplicação do método comparativo, história globalizante e história interpretativa (história problema). Quando ele atribui esse caráter reivindicador a escola dos Annales claramente se percebe que ele quer dizer que a história tradicional era extremamente reacionária e descritiva, por isso através da história comparativa se consegue perceber as semelhanças e as diferenças de determinados fenômenos e desta forma buscar uma explicação mais geral da história, porém essa explicação argumenta o autor, não pode ser confundida com a história global, que seria para Rojas a dimensão do objeto de estudo, onde tudo que pertencente ao universo humano é passível de analise, desde a pré-história mais remota ao presente, porém Rojas afirma que “... nem tudo que se refira ao humano é igualmente relevante ou explicativo dos grandes processos evolutivos das sociedades e dos homens” (Aguirre Rojas, 2007).
Também afirma que “... a história global é um conceito complexo e muito bem elaborado referido à totalidade articulada, hierarquizada e dotada de sentido que é a obra dos homens no tempo...” (Aguirre Rojas, 2007). É possível perceber que na primeira afirmação ele mostra que nem tudo que é relativo ao homem é relevante, essa afirmação abre margem para diversas interpretações, pois a noção de significação é relativa ao olhar que você coloca na coisa a ser analisada, dessa forma se não tenho interesse em determinado objeto eu posso dizer que ele é irrelevante, como argumentos semelhantes os positivistas viam o cotidiano das pessoas simples como irrelevantes para explicação do todo.
Quanto à segunda afirmação ele reafirma a importância da história global e a coloca como hierarquizada, o que poderia soar como uma idéia positivista, porém a finalização desse argumento no texto termina com a exibição de fatos que levam o leitor a crer que não é necessária a analise das múltiplas histórias particulares para se fazer essa história global, a mesma também se difere da positivista por problematizar e atribuir à interpretação a condição de passagem de uma erudição (positivista) a uma “verdadeira ciência histórica” (Aguirre Rojas, 2007). Dentro da perspectiva dessa mesma história global o autor tenta deslegitimar a autonomia adquirida pelas diversas ciências sociais e discursa a favor de uma unidisciplinaridade globalizante.
A segunda geração dos Annales (década de cinqüenta e sessenta do século XX) tem em Fernand Braudel um dos seus maiores representantes, Braudel contribui para a perspectiva da história crítica iniciada na primeira geração com a quebra da idéia de tempo newtoniano que é homogêneo, irreversível e composto por um único tempo. Braudel afirma que “existem múltiplos tempos, que não são os do relógio ou do calendário, mas que são temporalidades histórico sociais, tão múltiplas, diversas e heterogêneas como as próprias realidades.” (Aguirre Rojas, 2007).
No argumento de Braudel observa-se o novo modo de ver a temporalidade histórica, onde ela fragmenta-se frente à cronologia dos dias, meses e anos e permanece com a idéia de movimento dos acontecimentos históricos olhados pela primeira geração, contudo nessa construção argumentativa existe um cálice do que a terceira geração beberia inteiramente, que é o relativismo, que em Braudel aparece de forma suave.
A terceira geração dos Annales que se configura no pós – 1968 até 1989, segundo Aguirre oferece poucas contribuições a história crítica, por se tratar de uma história das mentalidades que enfoca as práticas culturais e se propõe a analisá-la apartir das próprias condições materiais de sua produção. Essa forma de entendimento valoriza o individuo na construção das estruturas sociais da qual participa. Rojas discorre várias críticas a essa terceira geração que aborda temas históricos banais, que para uma história global seria irrelevante, ao lado de temas de relevância, a diversidade dessa terceira geração incomoda bastante o autor pela sua relatividade metodológica.
São feitas pelo autor críticas ao pós-modernismo durante todo o livro, pelo fato de o discurso pós-moderno tentar restringir a história à argumentação e construir com isso jogos estéticos e arte, no sentido de que não tem regras, tal posicionamento pós-moderno acaba por reduzir a verdade ao poder do discurso e enxergar os fatos de forma fragmentada, colocando ao historiador um trabalho que caberia a um colecionador de antiguidades que goste das coisas do passado. Porém, o autor engloba a idéia pós-moderna desconsiderando a diversidade existente dentro do movimento pós-moderno.
Aguirre é notadamente um teórico de pensamento marxista, que vê no marxismo e nas primeira e segunda geração dos Annales um grande suporte identitário para se estabelecer uma história crítica global e comparativa, para tal é necessário uma reformulação do pensamento historiográfico que ainda carrega bastante dos métodos positivistas (a influência do positivismo parece ser no México bem mais forte do que no Brasil), a crítica de Rojas vai desde os positivistas até os pós-modernos passando pela terceira geração dos Annales. Sendo assim ele mostra o desejo de modificar a história elaborada e ensinada no México atual, vislumbrando essa “história crítica”, que para o mesmo seria a melhor maneira para formar bons historiadores e uma boa historiografia.
Grupo 4
Aline Lopes
Douglas Amorim
Jader Gregório
Jefferson Bezerra
Matheus Monteiro
Rebeca Rodrigues
Telma Karolina

Um comentário:

Isabel Guillen disse...

Pessoal, cuidado com a redação! Há muitas frases truncadas e sem sentido, ou com neologismos incompreensíveis...
Discordo de suas coisas que vocês colocam:
1. A interpretação de Roja não caminha no sentido de não valorizar a ação dos "grandes" homens, mas sim criticar a concepção de história que acredita que a mesma só seja feita por estes...
2. A crítica à terceira geração dos Annales não significa que não reconheça o valor de uma série de questões que foram desenvolvidas pelos historiadores dessa geração...
No mais, foi um bom trabalho.